Durante os anos de chumbo da ditadura militar no Brasil, alguns jornais costumavam publicar receitas de bolo no lugar de notícias que não passavam pelo crivo do censor de ocasião. É um fato histórico, mas que precisa ser relembrado de tempos em tempos, afinal ainda há quem diga que não houve censura, tortura, assassinato, truculência e corrupção em nosso país naquela época.
Como hoje é dia de eleição e ninguém quer saber de outro assunto, talvez eu devesse, em memória de bravos jornalistas (de ontem e de hoje), trazer neste espaço a receita do bolo de banana da minha mãe. Leva farinha de rosca no lugar da farinha de trigo, fica melhor quanto mais maduras estiverem as frutas… e é uma maravilha!
Fiz esse bolo de banana várias e várias vezes durante a pandemia, para desafogar a alma e acalentar o coração. Enquanto comia o bolo, eu me esquecia, um segundo que fosse, do noticiário pesado que a toda hora anunciava mais uma leva de milhares de brasileiros mortos em decorrência da covid-19. Melhor dizendo: foram mais de 600 mil brasileiros que perderam a vida por incompetência, negligência e negacionismo do mandatário da nação.
Como hoje é dia de eleição e ninguém quer saber de outro assunto no País, talvez eu também devesse trazer aqui receitas de como aproveitar cascas de frutas e legumes para fazer alguma iguaria.
Vimos muito disso nos últimos meses no noticiário, por conta de uma necropolítica ultraliberal imposta pelo atual governante, que ri e faz piada às custas de 23 milhões de brasileiros na linha da pobreza. Tudo está caro, fazer feira virou prática de luxo e enganar o consumidor vendendo gato por soro de leite se tornou paisagem comum no supermercado.
Como hoje é dia de eleição, e ninguém quer saber de outro assunto no País, talvez eu também devesse trazer aqui uma receita com frutos do mar. Risoto de Lula com chuchu, dizem milhões de brasileiros, é uma boa pedida. Na verdade, excelente! Já pensou: Lula em anéis, arroz arbóreo, chuchu refogado, alho, vinho branco, pimenta do reino e azeite a gosto? Uma delícia!
A maravilha desse prato, imagino, só é comparável mesmo a uma bela picanha acompanhada de uma cervejinha. Quiçá, degustadas ao som de antigas e novas canções de Chico Buarque. Quer saber? Vista sua melhor roupa, escolha a receita que mais agrada ao seu paladar e seja feliz hoje e sempre — sem medo algum. Cá entre nós: neste domingo, vou sambar, e sambar, e sambar, acreditando que “amanhã há de ser outro dia”. Saúde e bom apetite!