Na quarta-feira passada, dia da semana em que envio minha coluna semanal, acordei e logo depois fui ligar o rádio, como costumo fazer diariamente. Mal as notícias começaram a ser anunciadas pelo locutor, meu marido pediu para que eu desligasse o aparelho. “Não aguento mais ouvir notícia alguma”, falou. “Estou cansado desse noticiário político, estou cansado de tanta notícia ruim”.
Eu também estou cansada, Maridex. Todos nós, brasileiros, estamos com os nervos em fiapos. Batemos os olhos nas manchetes dos portais e vemos, de imediato, o fundo do poço onde o Brasil se meteu. Sintonizamos a emissora de rádio preferida (ou as preferidas, como eu tenho) e logo imergimos em lodo, lama e enxofre. Sim, o que fazem no Planalto respinga no nosso dia a dia. Causa náuseas. Leva-nos ao desespero e à vontade de desligar o rádio, para nunca mais ouvir nenhuma notícia sobre o Brasil.
Mas as notícias ruins estão aí. Não podemos ignorá-las. Ao contrário: precisamos encarar os fatos dantescos de frente. Absorver linha a linha, narração a narração. O escapismo não pode ser nosso alimento.
Faz mal à nossa saúde mental ter contato com tanta notícia negativa? Especialistas dizem que sim. Acredito, no entanto, que mal maior acontece quando nos alienamos. Quando colocamos lentes de purpurina sobre os olhos, apenas para ver tudo “de boas”, numa versão adulta do Jogo do Contente.
Mas aí estaríamos num país fictício. No Brasil real, o desmonte do que já fomos algum dia como nação continua. As notícias recentes – que Maridex não aguenta mais ouvir no rádio, ver na TV e ler nos portais – apontam para novo corte na Educação. Dessa vez, de R$ 2,4 bilhões, ameaçando as atividades de universidades e institutos federais.
Já no Orçamento de 2023, o noticiário anuncia, haverá redução na verba de ações para mulheres em até 99%. Tudo por obra e ação do presidente da República. Aquele mesmo que fez um comentário absurdo sobre o nascimento da própria filha um dia: “Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio uma mulher”.
Em outro campo, os casos de antissemitismo cresceram no atual (des) governo. Entre 1º de janeiro de 2019 e 30 de junho de 2022, houve 55 casos de antissemitismo e 114 de neonazismo, conforme informações do Observatório Judaico dos Direitos Humanos do Brasil, divulgadas pela revista Piauí. “Em 2019 foram 12 casos de antissemitismo e 12 de neonazismo. A soma, em 2020, subiu para 35. No ano seguinte, 2021, 67. Em seis meses de 2022, 43 – com seis meses e uma eleição a serem enfrentados”, revela a matéria.
Sim, Maridex, concordo com você. Às vezes dá vontade mesmo de deixar o rádio desligado e sintonizar a mente apenas com o silêncio. Mas o rádio, ah o rádio, também traz muita notícia boa.
Como a que ouvi bem cedo da manhã: no dia 5 de outubro de 1988, há 34 anos, a Assembleia Nacional Constituinte promulgava a nova Constituição do Brasil, batizada por Ulysses Guimarães de “Constituição Cidadã”. E é por essa e outras, que não posso abrir mão de me manter bem informada. Até porque, somente ouvindo informação de qualidade, tendo acesso a conteúdo relevante e acompanhando formadores de opinião responsáveis, conseguiremos manter nosso país livre dos falsos profetas, que tanto ameaçam nossa democracia.