Célia Chaves

Psicóloga clínica, psicanalista em formação, jornalista, palestrante e terapeuta de casal. Atendimentos presenciais, on-line e domiciliar
Celia Chaves

Uma história de amor e renúncia do amor

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Se para Drummond, “não há falta na ausência”, e tão somente um “estar em mim”, como mensurar o amor em suas diversas interfaces, alternando desde o sacrifício à verdadeira entrega de corpos e almas; rupturas e desejo de estar junto; da paixão ao ápice de um sentimento, também definido como o arquétipo da conjunção? São inúmeras nuances, transbordantes de emoções, na vida real e também em um dos mais bonitos romances do cinema: “As Pontes de Madison”.

​Lançado há mais de duas décadas, sempre será um ótimo programa, principalmente para assistir a dois, em qualquer época. Só não pode esquecer o lencinho de papel, por se tratar de comovente história, envolvendo vivências amorosas capazes de suscitar reflexões e inquietações, além de possibilidades.

​As revelações de Francesca Johnson (Meryl Streep), contadas em flashback, à medida em que os dois filhos têm acesso ao seu diário, transportam o espectador à planície sensorial do amor. Sim, mesmo o mais duro, pragmático e moralista dos seres, muito provavelmente será conduzido a esse lugar, onde também há componentes de adultério, erotismo, ousadia, desprendimento e capacidade de sublimação.

​Uma dona de casa nada comum, com quarenta e poucos anos, se permite experimentar, por apenas quatro dias, sentimentos que alimentariam seus sonhos pelo resto da vida.

O romance com Robert (Clint Eastwood vivendo um fotógrafo da revista National Geographic) durou o suficiente para devolvê-la à condição de se ver como mulher, com desejos, vaidades, inseguranças e também coragem de assumir seu verdadeiro self, mesmo que somente para si própria e diante dele.

​A química entre os dois aflora desde o primeiro diálogo, entre gestos, olhares fortuitos e toques acidentais. De repente, o casal está irremediavelmente enrolado. Apesar do curto tempo, tudo se passa lentamente, sem pressa alguma, como as coisas do amor. Ou seria paixão? O roteiro não permite dúvidas. É amor, sim. Nenhuma paixão duraria tanto tempo, até porque o organismo humano não suportaria tamanha adrenalina por anos a fio.

​Robert e Francesca vivem um genuíno encontro, desses raros de acontecer. Casada há bastante tempo, mãe de dois adolescentes, ela consegue um momento somente para si própria, enquanto o marido e filhos participam de uma competição estadual de novilhos.

Após se despedir dos três, depara-se com o fotógrafo, encarregado de registrar as pontes de Madison, em Lowa, EUA. Francesca repassa-lhe informações acerca de como chegar naquele ponto turístico, e vai além: se oferece para acompanhá-lo, com toda espontaneidade que lhe é peculiar. A partir desse instante, inicia-se uma sequência de diálogos sensíveis, provocantes e também despretensiosos.

O casal vive instigante história de amor, com direito a revelações, trocas e descobertas enriquecedoras, na vida de qualquer pessoa. Os filhos (Carolyn e Michael) passam a ter conhecimento após a morte da mãe, que deixa um diário narrando fragmentos do seu romance: breve, intenso e inesquecível.

Durante a narrativa, cada um a vê de forma diferente, passeando entre olhares curiosos e intolerantes. Carolyn tenta desvendar as razões pelas quais a mãe relacionou-se com Robert, enquanto Michael mostra-se mais intolerante. Ao final, Francesca consegue, por meio de seus escritos, deixar inúmeros ensinamentos, principalmente sobre os vários tipos de amor, expressos entre linguagens e momentos tão inspiradores, que jamais deveriam permitir qualquer forma de julgamento.

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