No dia 19 de março, é celebrado o Dia de São José, o esposo de Maria. Na crença popular, principalmente entre agricultores do semiárido do Nordeste, São José está atrelado a um imaginário muito especial. Nele, a população credita suas últimas esperanças em um bom ano de inverno.
Dizem que, se não chover até o Dia de São José, o ano será de estiagem, talvez até mesmo de seca. Não por acaso, a data é aguardada com ansiedade. Com um olho no calendário e outro nas nuvens (ou na falta de), agricultores e moradores da região rezam para o santo, pedindo bênçãos e chuva para as plantações.
Considerado o protetor dos agricultores, São José também tem outra tradição curiosa relacionada aos seus feitos. Não se trata de assegurar mesa farta, por meio de chuva e um bom ano na agricultura, mas de garantir marido. Sim, perto do que São José faz, Santo Antônio não merece tanta fama.
Natural de Patos, no Sertão paraibano, eu cresci acompanhando novenas e histórias sobre São José e a esperança em precipitações pluviométricas, mas desconhecia a fama do santo no campo amoroso. Fiquei sabendo do “lado B” do esposo da Virgem Maria e pai adotivo de Jesus Cristo há vários pares de anos, por meio de uma antiga colega de redação.
Era o mês de junho, e estávamos tratando de uma pauta sobre simpatias juninas, especialmente àquelas relacionadas a Santo Antônio, para arranjar marido. No meio da conversa, minha colega comentou que as mulheres rezam para o santo errado. E tascou o grande ensinamento: “Santo Antônio arranja um marido qualquer, mas São José garante um bom marido”.
Já fiz várias simpatias na véspera de São João, mas nunca fiz promessa para Santo Antônio ou São José. No máximo, usei a novena desse segundo santo (padroeiro do Vera Cruz, onde estudei em Patos), para paquerar os meninos da escola… E não era só eu, viu,?
Ainda que nunca tenha feito promessa para São José, casei-me no dia 18 de março. Nas semanas anteriores ao meu casamento, não se ouvia falar de notícia alguma de chuva, seja no rádio, seja no céu, para alegrar o coração dos sertanejos. Mas meu pai, homem que cresceu com raízes fincadas na sabedoria popular, ficava o tempo todo alertando: — Esse casamento no meio do terreiro, na véspera de São José, vai ser debaixo de chuva, viu?
Talvez ele não tenha falado assim, com essas palavras. Mas o que foi dito estava em consonância com a vontade sagrada. A chuva veio, e veio com força, trazendo alegria para o coração do meu pai e da minha mãe, moradores da zona rural. Trouxe também correria em busca de um caminhão de areia, para cobrir a lama que a chuva fazia crescer no terreiro. Felizmente, deu tudo certo! E essa história já faz 23 anos.
Por que trago esse causo aqui? Porque gosto muito do arcabouço cultural envolto na figura de São José. Além disso, sinto falta de ler conteúdo interessante nos portais daqui e alhures sobre a nossa gente, suas festas, suas dores, suas crenças. Quando bem trabalhadas, efemérides como o Dia de São José podem render excelente material jornalístico. A jornalista e professora Fabiana Moraes que o diga: de sua lavra, saíram reportagens vencedoras de prêmios e que viraram livros, como “Nabuco em Pretos e Brancos” e “Os Sertões”. Na próxima vez que você olhar a folhinha do calendário, veja além do factual e se permita criar narrativas que marcam e criam conexões.