Morreu no fim da manhã deste sábado, 27, em Campina Grande, o tatalorixá (o mais alto cargo dentro da hierarquia da Almas e Angola) Vicente Mariano, de 95 anos. A causa do falecimento foi falência múltipla dos órgãos. O líder religioso sofria de diabetes e chegou a amputar um dos pés por complicações da doença. Além disso, era cardiopata e apresentava ainda problemas pulmonares e renais, ficando 15 dias entubado.
Vicente era natural de Pernambuco, mas morava desde criança na Paraíba. Ele se mudou para Galante junto com a mãe, Raimunda Maria da Conceição, que ficara viúva. Depois, ambos migraram para Campina Grande, tendo o religioso recebido a cidadania campinense em 2020, através de propositura do vereador Anderson Maia (PSB).
De família humilde, trabalhou carregando balaios de feira na infância e já na adolescência foi contratado pelo hotel de Dona Penha, no Centro de Campina Grande. Mais tarde, seria cozinheiro no Hotel Regina.
Aos 16 anos, apresentou um estranho problema de saúde que não tinha diagnóstico. Era um sangramento nasal que causava inchaço no rosto. Foi, então, levado por um amigo da família, João Honório, ao Terreiro de Mãe Lídia, em Recife, com consentimento da mãe, Raimunda, que era católica. Ele contou que a mãe não interferia em suas decisões porque ele já trabalhava e contribuia financeiramente com as contas da família. Depois de um ritual realizado no terreiro, Vicente se livrou do sangramento. A partir daí, passou a viajar com frequência a Recife e lá foi iniciado na religião dos orixás.
Teve dois filhos adotivos: Valdemir e Emiraldo, que faleceu de meningite ainda muito jovem.
Vicente Mariano foi uma das maiores lideranças afro-religiosas de Campina Grande e considerado pioneiro na difusão dos cultos africanos na Rainha da Borborema, onde fundou o Terreiro Senhor do Bonfim Ilê Oxum Ajamin. O sacerdote mantinha boa relação com representantes de outras religiões, bem como com jornalistas e autoridades campinenses.
O velório de Vicente Mariano foi iniciado na noite deste sábado, no terreiro localizado na Rua Prudente de Morais (antiga rua do fogo), no bairro da Estação Velha.