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Opinião: Mulheres que não se sentem pertencentes

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O sentimento de pertencimento de vários grupos de mulheres é o tema do artigo que Iasmin Soares (produtora de conteúdo para as redes sociais, ativista, feminista interseccional, estudante de jornalismo e pesquisadora de afetividade e sexualidade de mulheres negras) publica neste domingo, 14. É uma continuidade da reflexão iniciada no domingo passado por ocasião do Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março. Confira:

Mulheres que não se sentem pertencentes
 
No último domingo, trouxe algumas reflexões sobre o Dia Internacional da Mulher, as comemorações e as lutas que essa data traz. Continuando com os debates que estou apresentando sobre o mês de março, hoje vamos entender o porquê algumas mulheres não se sentem abraçadas neste mês.

As mulheres que falo aqui são as que não se encaixam nos padrões de uma sociedade cisheteronormartiva, racista, eurocêntrica, capacitista, colonialista e capitalista. São elas: mulheres negras, indígenas, com deficiência, trans e travestis e pobres. O feminismo eurocêntrico não dá espaço para elas, que por si só procuraram outros meios de reivindicar os seus direitos e galgar os espaços.

Se pararmos para entender bem a história do Brasil vamos perceber que mulheres indígenas e negras eram escravizadas desde a colonização. Elas trabalhavam de forma forçada. As mulheres brancas eram as ‘sinhás’, as que mandavam e desmandavam nas pessoas escravizadas. Podemos perceber uma grande diferença entre mulheres de origem étnico-raciais diferentes. E ao longo da história, as ‘sinhás’ viraram as ‘patroas’, que até hoje se personificam na mulher rica e branca que contrata serviços de pessoas não brancas e as trata como se não fossem gente. Nessa lógica, trabalhadoras não brancas continuam sendo exploradas.

O feminismo intersecsional, o feminismo negro, o feminismo decolonial foram sendo criados no fim da década de 70 e início da década de 80. Na época, a luta feminista não pautava mulheres negras e o Movimento Negro Unido não discutia questões de gênero. Por esse motivo, o Movimento de Mulheres Negras (MMN) nasce na união das lutas de gênero e raça. Surgem pensadoras e ativistas como Sueli Carneiro, Beatriz Nascimento e Jurema Werneck, as quais vão dar início ao feminismo negro em terras brasileiras.

Hoje em dia, a situação não é tão diferente do passado para mulheres não brancas. De acordo com o Mapa da Violência sobre homicídio de mulheres no Brasil divulgado em 2015, no ano de 2013 foram assassinadas 66,7% mais pretas e pardas do que brancas. A violência de gênero atrelada ao racismo estrutural ainda coloca a mulher negra em condição desumana, animaliza os corpos não brancos e os fazem ser não pertencentes à sociedade eurocêntrica. Em 25 julho é comemorado o Dia da Mulher Negra Latinoamericana e Caribenha desde 1992. Uma data à parte foi necessária para que as lutas e demandas das mulheres negras fossem levadas a sério.

Já o transfeminismo, é uma vertente do feminismo que diz respeito às experiências e demandas específicas das mulheres trans e travestis. Por muitos anos a comunidade LGBTQIA+ excluiu dos seus assuntos as mulheres trans e travestis, e o feminismo também não deu espaço para reflexões sobre as vivências e situações das mulheres não cis.

As mulheres travestis e trans vivem com medo. No Brasil não há nenhuma legislação específica para proteção e o bem viver delas. Segundo dados do último dossiê sobre mortes e violência de pessoas trans e travestis divulgado pela Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (ANTRA), em 2020, um total de 175 pessoas trans e travestis foram assassinadas. E o Brasil segue na liderança do ranking mundial de assassinatos de pessoas trans no mundo, posição que ocupa desde 2008, segundo dados internacionais da ONG Transgender Europe (TGEU). As pessoas travestis e trans também tem uma data específica para dar visibilidade às lutas, é o dia 29 de janeiro que foi criado em 2004 aqui no Brasil.

Agora, você sabe um pouco do cenário atual e histórico em que muitas mulheres estão inseridas. Quando eu falo que essas pessoas não se sentem pertencentes ao movimento de mulheres atual, não estou generalizando. Há movimentos que são bem receptivos e escutam todas as mulheres. Entretanto, muitas mulheres que não são brancas e que não tem vários privilégios, se sentem de fora do atual cenário do feminismo, no singular. Por esse motivo, muitos outros feminismos, no plural, estão surgindo e levando as reivindicações de TODAS. São novas perspectivas que vão abrindo caminhos e avisando que se não abrangem todas as mulheres, então não abrangem as mulheres.

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