“A força não provém da capacidade física. Provém de uma vontade indomável”.
Mahatma Gandhi
“A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras”.
Winston Churchill
Lula foi um gigante na COP27. “O Brasil está de volta”, disse nos primeiros minutos. Lula nos fez relembrar que ele não é apenas uma liderança nacional ou latino-americana, mas internacional, mundial. Como mencionou o então presidente Barack Obama: “é o cara”.
Seu discurso foi milimetricamente elaborado, extremamente sofisticado e trouxe à tona os mais áureos períodos da diplomacia brasileira. Temos à mostra uma política externa altiva e ativa e, talvez, mais ousada do que outrora. A energia é solar, magnética, cônscia de si mesma, madura.
Quero de uma vez registrar a razão do uso da palavra “ousadia”. Foram dois momentos que, de alguma forma, Lula foi Hermeto Pascoal. Não me recordo de um único discurso presidencial, ou dos chanceleres, em que tenha havido uma crítica tão contundente para com o poder das cinco grandes potências (EUA, França, Reino Unido, Rússia e China) no Conselho de Segurança da ONU. Como se sabe, o Brasil almeja uma vaga de membro permanente neste órgão desde a redemocratização do país, na Reforma que se anuncia. Em 2004, na gestão de Celso Amorim, demos um salto qualitativo ao compormos o G4, grupo que reuniu o Japão, Alemanha, Índia e Brasil, a partir de uma plataforma comum e plausível de reforma do Conselho de Segurança.
Mas foi no discurso da COP27 em que pela primeira vez o Brasil, ao defender a inclusão de mais países como membros permanentes no Conselho Segurança, disse que era preciso “acabar com o privilégio do veto, hoje restrito a alguns poucos para a efetiva promoção do equilíbrio e da paz”. As palmas tomaram conta do salão.
A segunda vez em que foi não convencional, artista, ocorreu quando Lula disse que fora eleito também para cobrar dos países ricos a cumprirem suas promessas no que tange aos compromissos para com o meio ambiente e o planeta Terra. Foi novamente alardeado. O presidente eleito reiterou que existe uma ordem internacional assimétrica e que é necessário compreendê-la para que assim se possa criar as devidas políticas e responsabilidades compartilhadas.
Outro ponto que merece consideração a partir das Relações Internacionais é o anúncio, reiterado na COP27, da criação do Ministério dos Povos Originários. Esse acontecimento tem uma repercussão internacional de primeira ordem, tendo em vista que almeja, assim como o fez a Bolívia e o Equador (cada qual com suas idiossincracias), combater as violências coloniais que geraram marcas profundas e, infelizmente, extremamente atuais nas sociedades latino-americanas. Trata-se de, cum grano salis, uma reparação histórica e crítica a um modelo estadocêntrico europeu.
Ademais, é atilado mencionar que Lula resgatou uma das mais importantes contribuições do país para as discussões globais, que tem origem na ECO-92, realizada no Rio de Janeiro. Foi nesse momento, no Brasil, em que a ONU começou a introduzir, com certa sistematicidade, o conceito de desenvolvimento sustentável, que abarca a defesa do meio ambiente atrelada ao combate à pobreza. Esse binômio, a partir da Cúpula pela Terra, se tornou indissociável, conquista dos movimentos sociais e dos países em desenvolvimento.
Lula prometeu que o “combate à mudança climática terá o mais alto perfil na estrutura do meu próximo governo”, reiterando o compromisso contra o desmatamento em todos os biomas, o respeito aos acordos e protocolos internacionais, sugerindo que o Brasil seja o próximo país a sediar a Conferência das Partes (COP28). E que o país voltará a combater a desigualdade social e retomará uma agenda de desenvolvimento “tendo a natureza como aliada estratégica.”
Por fim teremos novamente um presidente que sabe a que veio. Cônscio das possibilidades e responsabilidades brasileiras no cenário internacional, Lula demonstrou ser um gigante, um líder internacional que marcará os livros de História de todo o mundo. Sua coragem e vontade para lutar contra as desigualdades, sejam elas do cotidiano das famílias que passam fome nos sertões nordestinos, nas ribeiras da grande Amazônia ou nas favelas das grandes metrópoles, ou sejam elas do sistema internacional, da arquitetura global de poder, promovem a esperança de que outro mundo é possível.
O Brasil está de volta.
*agradeço os comentários e a incitação da Profa. Marcionila Fernandes para escrever esse texto.