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Lula agradece à África por ‘tudo que foi produzido nos 350 anos de escravidão’

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta quarta (19) ter “profunda gratidão” pela África por tudo que foi produzido durante o período da escravidão no Brasil e afirmou que a forma de retribuir ao continente pode ser por meio de transferência tecnológica e ajuda com capacitação de profissionais.

A fala ocorreu durante declaração conjunta com o premiê de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, enquanto o petista esteve no arquipélago africano, em sua primeira viagem à África neste terceiro mandato.

Lula fez uma parada no país para abastecer a aeronave no retorno da cúpula UE-Celac em Bruxelas —portanto, a ida não foi considerada uma visita de Estado. Ele disse ainda que vai recuperar a boa relação com os países do continente, abrir novas embaixadas e ajudá-los.

“Nós, brasileiros, somos formados pelo povo africano. Nossa cultura, nossa cor e nosso tamanho são resultado da miscigenação de índios, negros e europeus. E temos uma profunda gratidão ao continente africano por tudo que foi produzido durante 350 anos de escravidão no nosso país”, disse Lula.

“A forma de pagamento que um país como o Brasil pode fazer [está em] tecnologia, a possibilidade de formação de gente para que tenha especialização para as várias áreas que o continente africano precisa, [como] industrialização e agricultura”, seguiu Lula. “Queremos agora, com minha volta à Presidência, recuperar a boa e produtiva relação que o Brasil tinha com o continente africano.”

O petista disse ainda que pretende visitar muitos países africanos, abrir embaixadas em nações nas quais o Brasil ainda não tem representação diplomática e ampliar o diálogo.

Sem mencionar o nome de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), Lula disse ainda que o Brasil poderia ter ajudado os africanos a produzir a vacina contra a Covid se não tivesse um governo negacionista à época. “Lamentavelmente, tivemos um desgoverno que não cumpriu o que é essencial: cuidar do ser humano.”

A África foi o continente que menos teve acesso a imunizantes em meio à pandemia. Até hoje, a região tem apenas 32% de sua população com duas doses ou a dose única do fármaco, segundo dados do projeto Our World in Data. Especialistas mais de uma vez afirmaram que muitas doses doadas por outros países chegavam com prazo curto de validade, o que dificultava sua distribuição para áreas mais remotas.

Depois, no Twitter, ao compartilhar fotos com o presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, Lula disse que eles também abordaram a importância dos estudantes cabo-verdianos no Brasil —o próprio presidente do arquipélago foi um deles, já que estudou na FGV nos anos 1980. “Volto com a promessa de reunir nossos países para pensarmos uma agenda comum”, escreveu Lula no post.

Esta não é a primeira declaração polêmica de Lula sobre a escravidão. Em março passado, ele citou a miscigenação como um lado positivo do período, numa fala que gerou críticas do movimento negro.

“Toda a desgraça que isso causou ao país causou [também] algo bom, que foi a mistura, a miscigenação, a mistura entre indígenas, negros e europeus que permitiu que nascesse essa gente bonita aqui”, afirmou.

A declaração ocorreu na Assembleia-Geral dos Povos Indígenas, em discurso em que Lula tentou exaltar os povos indígenas e negros e criticou os colonizadores que, “há 500 anos, venderam a ideia de que era preciso trazer escravidão ao Brasil porque os indígenas eram preguiçosos, não gostavam de trabalhar”.

O episódio despertou críticas de ativistas, que argumentaram que não há saldo positivo da escravidão. Eles citaram que a mestiçagem muitas vezes foi fruto da violência e lembraram que a ideia de elogiar a mistura de raças está ligada ao mito da democracia racial usado para negar a existência do racismo.

As falas do petista chamam a atenção para um dos traços de suas declarações que já geraram incômodo entre apoiadores e até entre pessoas próximas à Presidência: o improviso. O fator sobressaiu em especial nas diversas declarações do presidente sobre a Guerra da Ucrânia, em que mais de uma vez foi acusado de favorecer a Rússia de Vladimir Putin em detrimento da Ucrânia de Volodimir Zelenski.

Em 2005, durante seu primeiro mandato no Palácio do Planalto, Lula pediu perdão aos africanos pelo que foi feito com pessoas negras durante a escravidão. A fala foi dada durante visita oficial à ilha de Gorée, no Senegal, um ponto de saída dos navios negreiros.

Lula foi o presidente brasileiro que teve relação mais próxima com a África. Ainda nesta quarta-feira, ele afirmou que, nos últimos seis anos, nenhum líder brasileiro foi ao continente. Michel Temer (MDB), porém, foi a Cabo Verde, em 2018, para participar de uma cúpula da CPLP, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Já Bolsonaro não visitou a região.

O petista deve em breve estar com os líderes lusófonos, uma vez que o grupo tem uma cúpula de chefes de Estado e de governo marcada para o segundo semestre em São Tomé e Príncipe, também na África —Lula já disse que participaria do encontro.

Há entre alguns dos líderes lusófonos entusiasmo com a volta de Lula ao Palácio do Planalto. À Folha no início deste ano o presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, disse que, com o petista, o Brasil “pode ajudar os africanos a serem muito mais resilientes e a terem uma economia mais inclusiva e sustentável; também pode ter papel nas trocas comerciais e maior investimento da América Latina na África”.

 

 

 

Folha Online

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