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Lelouch revisita “Um homem e uma mulher”, 50 anos depois, para refletir sobre a memória

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Ícone de uma década do cinema francês, o filme Um homem, uma mulher (1966), do francês Claude Lelouch, teve uma continuação em 1986 com o mesmo título e o acréscimo de um subtítulo: “vinte anos depois”.  Numa festa comemorativa aos 50 anos do primeiro filme, Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Roteiro em 1967, Lelouch decidiu  retornar à história de amor de Jean-Louis Duroc (Jean-Louis Trintignant) e Anne Gauthier (Anouk Aimée), agora com o título Os melhores anos de uma vida (2019), lançado nessa quinta-feira. 24, pela Pandora Filmes em 9 cidades brasileiras.

Todo filme de ficção é um documentário, entende o teórico estadunidense Bill Nichols, pois registra diversos aspectos do mundo histórico mesmo quando se trata de uma narrativa cinematográfica imaginada. O filme que vemos na tela, na maioria das vezes, captura cenários reais, atrizes e atores em carne e osso (a chamada live action) documentando um lugar, uma época, aspectos de uma determinada sociedade, a performance dos intérpretes e de sua equipe técnica, inclusive a mise-en-scène do diretor. Além de revelar o estágio técnico das práticas cinematográficas do momento. Se se tratar de uma ficção científica, temos o registro de como uma sociedade de uma época imaginava o futuro. Um bom exemplo é Viagem à Lua, o curioso filme de George Méliès de 1902.

O preâmbulo acima nos leva a pensar o Os melhores anos de uma vida, um filme ficcional com roteiro de Claude Lelouch e Valérie Perrin, como impregnado de uma narrativa documental em camadas. Lelouch reutiliza cenas do primeiro filme, já carregado de memória e presente nos compêndios da história do cinema, para incorporar ao seu enredo como recurso de flashback.  Aqui temos documentados corpos e performances da atriz e ator que interpretaram os protagonistas em 1966, a visão do diretor e a forma de abordagem de um tema numa determinada época com seus cenários urbanos e paisagens naturais.   

O enredo deste 49º filme de Lelouch versa sobre o reencontro de Jean-Louis Duroc com a mulher de sua vida, Anne Gauthier, mais de 50 anos depois, a partir dos esforços de Antoine, filho de Duroc (Antoine Sire) para levar Anne ao encontro do pai numa casa para idosos. O breve e intenso romance entre os dois permanece em fragmentos intermitentes na memória do octogenário. No filme de 1966, Um homem, uma mulher, Duroc é um piloto de corrida e conhece Anne por ocasião de uma visita sua ao filho, estudante em Dauville, onde Anne (Anouk Aimée, indicada ao Oscar de Mehor Atriz), uma viúva de 30 anos, também se encontra para rever a filha. O romance dos dois começa quando Anne perde o trem para Paris e ganha uma carona de Duroc. Essa história banal de um romance, embalado pela trilha sonora do francês Francis Lai e dos brasileiros Vinícius de Morais e Baden Powell,  fez enorme sucesso de público e crítica à época.

Os melhores anos de uma vida vai além do déjà vu de Um homem, uma mulher: 20 anos depois, cujo enredo mostra Anne como um diretora de cinema tentando realizar um musical inspirado no romance dos dois enamorados do primeiro filme. Aqui, encontramos Anouk Aimée e Jean-Louis Trintignant na casa dos 50 anos, maduros, interpretando os mesmos personagens em seus encontros e desencontros, com argumento e roteiro também assinados por Lelouch. O primeiro filme termina mostrando os dois amantes numa cena romântica que sugere um “e viveram felizes para sempre”. No segundo, ficamos sabendo que eles se separaram logo depois daquela cena e que só vão se reencontrar vinte anos depois. Ana, que era continuísta, agora é uma importante produtora de filmes.

Aos 83 anos, Claude Lelouch, o diretor que popularizou o Bolero, de Maurice Ravel em Retratos da vida (1981), realiza um filme sobre o amor, a velhice e, sobretudo, a memória. Seus personagens têm a mesmas idades do ator e atriz que os interpretam. As marcas do tempo estão nos seus corpos e na capacidade de rememorar experiências passadas para se situarem no tempo presente e tentar modifica-lo em função do vivenciado outrora. Para a nossa sociedade, o envelhecimento ainda é visto como doença e um inexorável processo de morte. O personagem de Duroc tem perda progressiva de memória mas insiste em não esquecer a mulher que marcou sua vida. A presença de Anne vai tirá-lo de um estado de quase letargia e, quem sabe, para um recomeço de um momento perdido no passado distante. Os melhores anos de uma vida é uma ode ao amor, à vida e ao inelutável desejo de viver.

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