"O Brasil não precisa de mais Estados." É assim que o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), mostra seu descontentamento com o plebiscito que consultará os paraenses, no próximo domingo, sobre a divisão do Estado.
Em entrevista à Folha, Jatene afirmou que a divisão, caso aprovada, abrirá um precedente para que outros projetos de criação de Estados sejam colocados em pauta no Congresso Nacional.
"As pessoas não estão querendo um Estado A, B ou C. O que elas querem é mais saneamento, mais educação, mais saúde, e isso é uma demanda legítima. Alguns políticos se aproveitam e apresentam a divisão como remédio para todos os males", disse.
Caso haja divisão do Pará, serão criados os Estados do Carajás e do Tapajós.
Jatene inicialmente prometera a seus aliados que ficaria neutro durante o plebiscito, mas passou a se pronunciar publicamente nas três semanas finais da campanha.
Ele afirma que rompeu o silêncio porque a campanha a favor da divisão estava divulgando mentiras.
"Eu não posso aceitar que se vá para a frente da população e se diga que, com a divisão, a receita do Estado se multiplica por três. Isso não tem nenhum fundamento", afirma o governador.
Na avaliação de Jatene, a discussão sobre a divisão do Pará tem raízes no "esgarçamento do pacto federativo". "Há uma deficiência do Estado brasileiro. União, Estado e município não respondem às necessidades da sociedade", disse Jatene.
"É uma questão séria. Imagine que isso abra uma esteira e que os outros projetos de divisão territorial sejam aprovados", afirmou o tucano.
"Elites políticas terminam puxando isso e tentam fazer a sociedade encampar seus interesses, a partir de uma demanda legítima da própria sociedade", disse Jatene.
INVESTIMENTOS
Ele rejeita as críticas de que o investimento nas regiões separatistas é baixo.
Segundo diz, proporcionalmente à população, os investimentos nas regiões onde seriam criados os Estados do Carajás (sudeste) e do Tapajós (oeste) já chegaram a ser maiores do que na região da capital, Belém.
"Por melhor que seja o governo, o bolo é pequeno para distribuir", afirmou.
O governador ainda fez críticas ao processo de implantação da hidrelétrica de Belo Monte, no oeste do Pará.
"Do jeito que estão fazendo é uma doidice", afirmou.
Os problemas só são discutidos "quando a questão ambiental está sendo atropelada, quando a prostituição infantil explode, quando a segurança pública não responde", disse Jatene.
Ele defende que o BNDES financie um projeto de desenvolvimento regional a partir da projeção da arrecadação de tributos que Belo Monte trará nos próximos anos.
Folha Online