Muita gente está criticando o presidente Jair Bolsonaro por ele ter concedido o perdão ao deputado federal Daniel Silveira. Na última quarta-feira, o deputado foi condenado a oito anos e nove meses de reclusão, inicialmente, em regime fechado, à perda do mandato de deputado federal à suspensão dos seus direitos políticos. Ao todo, 10 dos 11 ministros votaram para condenar o parlamentar.
O crime de Daniel Silveira foi promover ataques verbais aos ministros do Supremo. Em relação a Edson Fachin, ele desejava que fosse dada uma surra no ministro; Acusou Alexandre de Moraes de fazer parte de uma gangue, Gilmar mendes de vender sentenças e o próprio STF de ser um arcabouço do crime no país. Ele também sugeriu a convocação das Forças Armadas para intervir no STF” e detalhou alguns atos de violência que poderiam ser praticados contra os ministros da Suprema Corte brasileira.
Quem não gostou da graça que Bolsonaro concedeu a Daniel Silveira pode acusar o presidente de tudo neste caso, menos de ser incoerente.
Quem já atacou mais o STF do que Bolsonaro e seus filhos? Afinal, um cabo e um soldado poderiam fechar o Supremo. Lembram disso? A frase é do deputado federal Eduardo Bolsonaro.
O presidente também atacou o TSE, a lisura das eleições através das urnas eletrônicas…
Esse é Jair Bolsonaro. O que ele pensa está muito claro. Ele recua frequentemente diante da resposta negativa da opinião pública, mas não esconde o que pensa. Que o estado deveria agir sempre para servi-lo. Quando uma instância não age assim, é duramente atacada.
Por isso, não me surpreende que Bolsonaro tenha perdoado Daniel Silveira e mais uma vez tenha comprado uma briga com o STF.
O clima de instabilidade nacional e de briga entre executivo e judiciário vai continuar. É uma marca de Bolsonaro.
Assim como é habitual o presidente ser contraditório. No decreto de perdão a Silveira, ele diz que o indulto individual é uma medida fundamental à manutenção do Estado Democrático de Direito. Mas, o STF, na cabeça dele, não é necessário para resguardar esse mesmo Estado,
Prosseguindo, o presidente considera que a liberdade de expressão é pilar essencial da sociedade em todas as suas manifestações e que Daniel apenas teria expressado uma opinião. Neste caso, matar, surrar, esfolar e jogar no lixo “um cabeça de ovo”, referência ao ministro Moraes, é apenas isso: uma forma de expressão.
Nada fora da curva para Bolsonaro. Excepcional mesmo é pensar que o pensamento desse cidadão que assumiu a presidência foi avalizado por quase 58 milhões de brasileiros. O eleitorado brasileiro é que surpreendeu ao assumir o risco de levar Jair, com seu histórico de extrema direita, ao Palácio do Planalto.