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A felicidade é química

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Atualmente, quase todo mundo que eu conheço tem um diagnóstico psiquiátrico e sabe, de cor, o nome de montes de medicamentos tarja preta. Nome comercial e do composto. Depressão, transtorno bipolar, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, ansiedade generalizada, doenças provocadas por transtornos emocionais e por aí vai.

Viver ficou mesmo muito complicado. Parece que só está dando para suportar à custa de alguma suplementação.

Amor, não necessariamente de casal, amigos queridos e família já estão de bom tamanho, além de trabalho, claro, casa, comida, cineminha, praia, cafezinho, um livro interessante, cuidar de plantas, um cachorro divertido, um gato dengoso… coisas simples que garantem sono tranquilo sem o auxílio de nenhum remédio, mesmo que supostamente natural. Pois é, a gente conseguia dormir sem precisar de melatonina comprada na farmácia.

A quantidade de estímulos aos quais somos submetidos o tempo inteiro é alarmante. Mensagens pipocando pelos mil buracos das redes sociais, vídeos, Reels, TikTok (tique TOC?), jogos, receitas, compras, viagens, tudo, tudo ao mesmo tempo agora. Como é que não se desenvolve o tal déficit de atenção? É humanamente impossível manter a concentração, a atenção, o foco. Quem de nós já não se pegou arrastando a telinha para cima, assistindo a vídeos rápidos e, quando se deu conta, estava naquele quase entorpecimento consideravelmente demorado, anestesiado e com a culpa de ter desperdiçado um tempo que poderia ter sido mais bem aproveitado, já que não era preciso ver mais uma receita de macarrão à carbonara ou alguma socialite metida dando lições de etiqueta? A memória, então, nem se fala. Como a gente pode registrar a imensa quantidade de informações? E, como estamos nos acostumando a guardar as memórias na memória do nosso órgão apêndice, o celular, a do cérebro está atrofiando. Então, vamos achar que estamos ficando muito esquecidos e, claro, buscar um remédio para isso, ao invés de limpar o HD interno, mais entulhado que aquelas casas de programas sobre acumuladores.

Na minha formação médica, lá pelos tempos do ronca, a gente discutia a força da indústria farmacêutica, a luta antimanicomial e coisas assim. Mas eles venceram, e o sinal fechou. Viver sem antidepressivos é quase manter o sinal fechado para nós, ainda jovens. E a quantidade de louco solto pelo mundo não está para brincadeira. Naqueles tempos, se alguém dissesse que tinha falado com Jesus ou o visto numa goiabeira, receberia um diagnóstico, seria internado e tomaria Haldol. Hoje são pastores e ministros espalhadores de violência em nome de Deus. Bem que se merecia o fechamento de igrejas e a reabertura de hospícios, de preferência, de segurança máxima.

Há uma quantidade grande de pessoas se tratando para ansiedade. Mas como não se sentir ansioso num tipo de vida que inventamos em que o melhor lugar não é mais aqui e agora? Como não se sentir ansioso com aquela mensagem que não foi respondida ou que ainda não respondemos? Observe a quantidade infinita de demandas que essas novas interações criaram. Observe a ansiedade crônica que vivemos cotidianamente, num simples ato de acionar o controle do portão eletrônico, sabendo que aquilo existe porque vivemos sempre com medo. Um mundo que não se dá conta. Um mundo que deixa a gente sempre na sensação de estar perdendo algo. O filme, o documentário, a série, o novo restaurante de comida tailandesa, a festa, o show, a peça. Me dá um cansaço só de pensar. E olhe que os itens dessa lista são muito bons. A questão é o excesso. Muita coisa para competir com a paz tranquilizadora de um livro, que, aliás, é um ótimo ansiolítico e, garanto, não causa a sensação de ter se perdido tempo.

E, quando escolho um fim de semana de recolhimento, dedicando o tempo que cada coisa merece para ser degustada, demora um tempão para sair do conflito das coisas que estou, supostamente, perdendo. Mas tento resolver isso sem remédio. Apenas aquela lição antiga: não dá para fazer tudo. Não se pode ter tudo. Até porque não cabe. Não há espaço, nem no tempo nem no corpo. É uma conta simples.

A felicidade dos nossos dias é química. Não sei se é caminho sem volta. Gostaria que não fosse. Ou que encontrássemos o caminho do meio. Sei que posso estar sendo romântico, mas, talvez, se a gente parar um pouco para se escutar no meio dessa barulheira toda, ainda dê tempo para se conectar com o que realmente importa e fazer as escolhas certas. Pelo menos de vez em quando, um cantinho, um violão para fazer feliz a quem se ama e dar uma desintoxicada e, como diz a música, manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo.

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