Na tentativa de ficar mais próxima do marido internado por covid-19 no Hospital Universitário Lauro Wanderley, a amazonense Adriana Xavier viajou por conta própria para a capital paraibana na mesma semana em que o esposo foi transferido de Manaus. A preocupação e a ansiedade de não ter notícias foram fatores que impulsionaram a chegada da dona de casa, que também foi diagnosticada com a doença e precisou de acompanhamento hospitalar. Durante o período de internação, o casal mantinha contato com a família através de videochamadas realizadas pela equipe do HULW-UFPB/Ebserh.
“Ficamos muito gratos e até emocionados com toda a assistência prestada aqui. A gente sente o apoio da equipe que realiza as telechamadas, pois um profissional sempre ficava ao nosso lado durante as visitas. Esse suporte tem sido maravilhoso”, disse Adriana, que recebeu alta na última quinta-feira, junto com mais quatro pacientes.
Como uma forma de aproximar pacientes e familiares, amenizando a saudade e a aflição de não poder ter notícias do ente querido, as visitas virtuais foram instituídas no Hospital Universitário Lauro Wanderley, da Universidade Federal da Paraíba e vinculado à Rede Ebserh, no intuito de compensar a ausência das visitas presenciais, suspensas em virtude da pandemia causada pelo SARS-CoV-2.
“Tivemos o cuidado de juntar forças com os nossos colaboradores da atenção psicossocial e a equipe de tecnologia da informação, para que os pacientes transferidos pudessem manter o contato com os seus entes queridos na cidade de Manaus. Nosso intuito é prestar assistência integral aos nossos usuários”, comentou o superintendente Marcelo Tissiani.
As visitas acontecem todos os dias e são viabilizadas pelos profissionais do Serviço Social e da Psicologia, que compõem a Unidade de Atenção Psicossocial do HULW, bem como por outros colaboradores da assistência que atuam na linha de frente no combate à covid-19.
“As visitas virtuais foram propostas pelo Grupo de Humanização do HULW e sua efetivação envolve a participação de toda a equipe no atendimento integral e humanizado, não só voltado ao tratamento da doença em si, mas a toda dimensão biopsicossocial dos usuários, permitindo assistência de imediato às demandas que vão surgindo”, informou a coordenadora do Serviço Social, Andréa Fábia Freitas.
Entre os objetivos da interação remota entre pacientes internados e familiares estão redução dos possíveis impactos nas medidas de isolamento social como depressão, estresse e ansiedade; fortalecimento do vínculo usuário/família e serviço/família; e promoção do direito a uma assistência à saúde integral e humanizada.
As chamadas podem ser por vídeo ou ainda por voz para os casos daqueles usuários com capacidade de comunicação verbal. Pacientes com condições clínicas que o impedem de interagir diretamente durante as visitas podem receber mensagens de áudio enviadas pelos familiares e transmitidas à beira do leito. Para isso, a equipe psicossocial entra em contato com o familiar de referência a fim de realizar essas chamadas ou garantir a transmissão das gravações (para aqueles pacientes com limitações momentâneas de verbalização).
Decisão acertada
Quando consultaram a esposa do auxiliar de cozinha Marcos André Lagoa, de 45 anos, sobre a possibilidade de transferência para o Hospital Universitário Lauro Wanderley, ela não pensou duas vezes. “Me falaram que precisava apenas de autorização para ele ser transferido para João Pessoa. Eu falei: com certeza, pode preparar a documentação que meu esposo vai sim”, disse Adriana Xavier.
A amazonense conta que a decisão de transferir o esposo para o HULW foi a melhor que poderia ter tomado. Dois dias antes da transferência, o paciente havia apresentado um agravamento no quadro de saúde e precisou ser hospitalizado em um hospital de Manaus. “No entanto, não apareceu oxigênio para o meu marido. Ele passou a noite em uma sala sentado em uma cadeira, sem medicação, sem nada. Não havia as mínimas condições de se recuperar ali. O hospital em Manaus estava uma calamidade, era gente morrendo na nossa frente”, contou.
No dia 17 de janeiro, quinze amazonenses chegaram a João Pessoa, devido ao colapso no sistema de saúde de Manaus-AM. Posteriormente, o Lauro Wanderley também acolheu em enfermaria mais dois manauaras, que vieram à capital paraibana para ficar mais perto de parentes que haviam sido transferidos e que também testaram positivo para a covid-19.
“Essa grande rede de apoio foi organizada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e Ministério da Educação (MEC), com coordenação do Ministério da Saúde (MS). Nossa missão foi a de receber esses pacientes para proporcionar o melhor tratamento possível”, informou Marcelo Tissiani.
Até a sexta-feira (29), cinco manauaras permaneciam no Hospital Universitário Lauro Wanderley, sendo três na enfermaria e dois na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas há perspectiva de novas altas em breve. “A previsão para os pacientes que se encontram na enfermaria é que, em 48 horas, eles tenham possibilidade de alta para retornar a Manaus”, afirmou Pablo Antônio Vidal, chefe da Divisão Médica do HULW.