Ao menos três pessoas morreram e outras 16 ficaram feridas nesta sexta-feira (23), no sul da França, em um atentado reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI) e executado por um homem que foi abatido pelas forças de segurança. Ele ficou entrincheirado durante várias horas em um supermercado.
“Nosso país sofreu um ataque terrorista islamita”, declarou nesta sexta à tarde o presidente francês, Emmanuel Macron.
O autor deste ataque, cometido em várias etapas entre as cidades de Carcassonne e Trèbes, um marroquino identificado como Redouane Lakdim, de 25 anos, atuou sozinho e era conhecido por “pequena delinquência”, declarou à imprensa o ministro francês do Interior, Gérard Collomb, no local.
Uma mulher que morava com ele foi detida para ser interrogada, anunciou o procurador de Paris, François Molins, encarregado de investigações antiterroristas.
O grupo extremista EI rapidamente reivindicou o atentado por meio de sua agência de propaganda Amaq.
“O homem (…) é um soldado do Estado Islâmico, que atuou em resposta a uma convocação” a agir “contra os países-membros da coalizão” internacional contra o grupo no Iraque e na Síria, segundo um comunicado postado na rede social Telegram.
Uma fonte próxima à investigação havia dito pouco antes que o autor do atentado era vigiado por possível radicalização.
“O vigiamos e pensávamos que não havia radicalização. Passou à ação de forma brusca, embora já estivesse sendo vigiado”, acrescentou Collomb, afirmando que o risco terrorista continua sendo “extremamente forte” na França.
De acordo com várias fontes próximas à investigação, o agressor, que disse agir em nome do EI, executou o massacre em um violento percurso que culminou em uma tomada de reféns em um supermercado.
“Roubou primeiro um automóvel em Carcassonne, matando o passageiro e ferindo o motorista”. Um pouco mais longe, disparou e feriu levemente um policial que voltava de uma corrida com outros agentes perto de um quartel.
Alguns minutos mais tarde, às 11h15 locais, entrou em um supermercado de Trèbes, a menos de 10 quilômetros de Carcassonne, e “matou outras duas pessoas”, um funcionário e um cliente.
No interior, fez uma mulher de refém, enquanto outros conseguiram fugir. Um tenente-coronel da Gendarmeria enviado ao local se ofereceu como refém no lugar da mulher.
Às 14h30, o oficial ficou “gravemente ferido” pelos disparos do agressor, desembocando na ação das forças de elite da Gendarmeria, detalhou Collomb, que saudou seu “heroísmo”.
“O tenente-coronel havia deixado seu telefone conectado em cima da mesa e em um certo momento pudemos ouvir o que estava acontecendo. Escutamos os disparos e foi quando a GIGN (unidade de elite da Gendarmeria) interveio”, explicou o ministro.
Este gendarme “luta contra a morte”, disse Macron à imprensa.
Um militar que participou na invasão ao estabelecimento também ficou ferido por uma bala.
– Escondidos em uma câmara frigorífica –
Supostamente armado com facas, uma arma curta e granadas, o agressor gritou “Allahu Akbar (“Alá é grande”) ao entrar no supermercado, segundo testemunhas.
“Um homem gritou e começou a atirar várias vezes”, assegurou um cliente do supermercado à rádio FranceInfo. “Vi a porta de uma câmara frigorífica e pedi às pessoas que se escondessem ali. Éramos 10 e ficamos por uma hora. Houve mais disparos e saímos pela porta de emergência traseira”, contou.
Este atentado reivindicado pelo EI seria o primeiro importante desde a eleição de Macron, em maio de 2017.
Muitos furgões pretos e agentes de unidades especiais da Polícia, encapuzados e fortemente armados, se mobilizaram durante a tarde no bairro de Carcassonne, onde o agressor vivia, a algumas centenas de metros do centro histórico, e realizaram operações.
A França continua em alerta depois de uma série de atentados, desde o ataque contra a sede do semanário satírico Charlie Hebdo em janeiro de 2015 e que deixou 12 mortos.
A onda de atentados extremistas deixou um total de 238 mortos e centenas de feridos em 2015 e 2016. Vários desses ataques, ou tentativas de ataques, tiveram como alvos militares e policiais.
As autoridades temem novos atentados apesar do aumento das medidas de segurança instauradas pelo governo, cujo sinal mais visível é a mobilização de 10 mil policiais e militares em ruas, estações e locais turísticos.
O ataque anterior reivindicado na França pelo EI ocorreu em Marselha, em 1º de outubro. Nesse dia, um tunisiano de 29 anos, Ahmed Hanachi, matou dois jovens na estação Saint-Charles ao grito de “Allahu Akbar”, antes de ser abatido por militares.
Jornal do Brasil