Se há realmente beleza na velhice do tempo ou tão somente na sucessão dos dias, como cantara Caetano em sua inigualável “Oração ao tempo”, o que dizer da meia-idade, aquela fase da vida entre os 40 e 60 anos? Para alguns, período de crises, angústias e incertezas, que afastam vivências de felicidade, por mais que se almeje e busque, principalmente em uma fase na qual, geralmente, cada um já fez quase tudo que podia e se doou ao máximo.
Aos 40, 50, 60 anos, muitos homens e mulheres conseguiram satisfazer desejos mais básicos de sobrevivência, a exemplo de certa estabilidade financeira, uma profissão para chamar de sua e a glória de ver os filhos criados. Ou seja, seria a hora da colheita, cultivando uma vida tranquila, sem maiores sobressaltos e inquietações.
Eis que surgem outras necessidades, de ordem mais emocional, impulsionadas por pensamentos e energias psíquicas que parecem voltar-se para um outro “eu”. Muda-se de foco e, às vezes, o ser humano atravessa crises de identidade, que o fazem refletir sobre uma série de acontecimentos no curso da vida. Rever a própria existência…
Há uma espécie de contagem dos anos, que talvez não mais esteja tão a nosso favor. Os dias poderiam passar mais rápido ou lentamente, para dar tempo adotar mudanças que se fazem imprescindíveis durante um processo de individuação. De repente, vislumbram-se horas para gastar tão somente com aquilo que mais dá prazer, independente do que irão pensar ou falar.
A meia-idade tem suas idiossincrasias, e pode estar mais afeita mesmo ao princípio do prazer. Reflete um momento onde, na maioria das vezes, já se agradou demasiadamente ao outro, em detrimento de sonhos recalcados por toda uma trajetória. Claro que um dia, antes tarde que nunca, esses desejos iriam aflorar, amalgamados com emoções, dores, alegrias e vontades próprias, habitualmente esquecidas ou negligenciadas.
O indivíduo questiona então a validade das escolhas feitas, a fim de descobrir novos propósitos e significados para a sua vida. É um momento de profundo crescimento psicológico, marcado por rupturas e transformações nos diferentes segmentos. Modificam-se rumos profissionais, pondo fim àquele emprego que só dava descontentamento e angústia; muda-se de cidade; e, às vezes, até de amor, se a relação também era motivo de dor.
Na verdade, o ser humano se vê diante de novos desafios, além da certeza de não mais haver tempo a perder. Portanto, o melhor que se faz, em meio às mudanças físicas, cognitivas e emocionais, é aproveitar a oportunidade para botar na balança toda a vida já vivida e a que se deseja viver. Afinal, sempre haverá um momento para ser feliz de fato. “Tempo, tempo, tempo, vou te fazer um pedido…”.