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‘Sem Ursos”: a inventividade de Jafar Panahi num contexto de extrema repressão

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O difícil é saber se o cineasta iraniano Jafar Panahi ficcionaliza seus documentários ou documentariza suas ficções. Mas isso não importa. Neste sentido, me alio ao teórico estadunidense Bill Nichols que abraça a instigante ideia sobre o cinema de ficção e de não-ficção. Para ele, todo filme é um documentário, mesmo a mais “extravagante” das ficções, porque registra a aparência e costumes de uma sociedade em determinada época ou até o seu imaginário sobre o futuro, como nos filmes de ficção científica, por exemplo.

O documentário nasce recorrendo a estratégias de encenação/ficcionalização que seguirão acompanhando o gênero ao longo de sua trajetória, quer seja para representar costumes, eventos e situações que não podem mais ser encontrados, como em ‘Nanook, of The North’ (Robert Flaherty, 1922), ou para suprir lacunas relacionadas à recusa ou à impossibilidade de personagens reais em se disporem para a câmera. Há ainda a escolha deliberada do recurso à ficção na tentativa de confundir as fronteiras entre os campos documental e ficcional.

A abordagem documental não se restringe à simples ordenação de imagens e sons capturados do mundo histórico numa determinada sequência com vistas a uma narrativa. O documentário, enquanto narrativa acerca do real, a partir de seu surgimento, recorreu a estratégias e estruturas da narrativa dramática do cinema ficcional. Numa abordagem do real, o diretor e sua equipe estão sujeitos, na maioria das vezes, a armadilhas que o embate com o real proporciona. 

A “invenção”, como estratégia de representação do real, é uma arma poderosa do diretor iraniano Jafar Panahi em ‘Sem Ursos’ (Iran, 2022, 107min), onde assina direção, roteiro e produção. O filme, exibido recentemente no Cine Banguê, foi o vencedor do Prêmio Especial do Júri no festival de Veneza de 2022. Panahi interpreta seu próprio papel nas duas histórias de amor narradas pelo filme. Na primeira, ele é um cineasta que filma a tentativa frustrada de um casal que busca fugir do regime opressivo dos aiatolás. Na outra, Panahi se envolve por acidente em uma segunda história de amor de dois enamorados, numa aldeia do Iran, impedidos de se relacionarem por crenças supersticiosas.

Panahi trata,através dessas duas histórias que se desenrolam em paralelo, de questões políticas e culturais de seu país. De um lado, um regime autoritário e, de outro, crenças e costumes milenares que estão bem vivos em vilarejos espalhadas pelo interior do seu país. Um governo teocrático e uma cultura fundada em crenças milenares constituem regimes opressivos que impedem a livre expressão individual. Há décadas, o artista vem sofrendo na pele o horror de um governo fundamentalista na sua vida pessoal e atividade artística, sendo preso, impedimento de sair do país e claro, com a total falta de apoio local ao cinema que ele acredita e produz.

Leiam também a crítica de Carlos Alberto Mattos em:

https://carmattos.com/2023/05/13/jafar-panahi-explora-as-fronteiras-no-do-cinema/

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