“Sorvete saboroso! Sorvete delicioso! É uma promoção especial de sorvete: 10 bolas de sorvete por 1 real. Dez bolas por um real! Traga a vasilha. Tra-ga a va-si-lha”. Durante muito tempo, imaginei que esse anúncio popular estivesse restrito à minha aldeia. Para minha surpresa, descobri esses dias que tal publicidade passou de um bairro a outro, avançou divisas e até fronteiras entre Estados. Minha descoberta se deu durante uma conversa num grupo de comunicadores sobre a necessidade de adequação de canais a cada público.
O mote foi uma coluna anterior sobre os brasileiros com acesso à internet X os excluídos digitais. Em tempos de Inteligência Artificial, transmissões on-line, realidade virtual, metaverso e as mais diversas possibilidades de interação por redes sociais, muitas vezes deixamos para trás quem não faz parte desse universo. E não inserimos em nossas ações produtos que podem ser desenvolvidos para além do mundo digital, como spot para carro de som ou veiculação em rádio, cartazes, panfletos, folders e anúncios em jornais e revistas.
No afã de “bombarmos” no cenário online, esquecemos que o offline existe e dá resultados. Também ignoramos que ações simples podem gerar mais impacto do que outras elaboradas e bem mais onerosas. Um carro de som circulando pelos bairros onde haverá uma ação de Defensoria Pública Itinerante, por exemplo, será muito mais eficiente do que um vídeo postado no TikTok ou no Instagram. Do mesmo modo, um aviso simples, com texto conciso e direto, pode chegar de forma mais certeira ao público, mesmo quando apenas lido durante uma reunião.
Ouvi um exemplo desses durante um curso que fiz sobre redes sociais. Um dos participantes citou que precisava divulgar um curso de informática básica para pessoas 60+ e procurou ajuda do setor de Comunicação Social do órgão em que atuava. A capacitação foi divulgada nas redes sociais oficiais e no site institucional. Às vésperas do curso começar, porém, praticamente ninguém havia feito a inscrição. Como resolver o problema? A comissão responsável pela capacitação foi a algumas igrejas da comunidade e pediu para dar um aviso ao fim da celebração. Resultado: a notícia logo se espalhou entre o público de interesse e todas as inscrições foram preenchidas em pouquíssimo tempo!
Enquanto conversava com meus colegas de trabalho sobre essas iniciativas offline, ouvi outros casos interessantes. No Maranhão, é comum a adoção da famosa “bike som” para divulgações em comunidades. Tal veículo também costuma ser utilizado no Pará, em Pernambuco, Ceará… Seja de bicicleta/moto, seja de carro, a propaganda volante se traduz em eficiência.
Esse diálogo com amigos comunicadores me lembrou não apenas da importância do canal utilizado, mas também que o conteúdo precisa estar alinhado ao cotidiano do público de interesse. Quem são essas pessoas? Onde elas moram? A comunicação está afinada com a realidade delas? Como deve ser esse diálogo? Assim, a mensagem, o canal, e a forma como iremos transmitir algo precisa estar conectado a cada audiência. E todo e qualquer material deve ser produzido com linguagem e estética voltadas à realidade desse grupo, para alcançar mais e mais pessoas e auxiliar no acesso à informação.
Moral da história: seja para vender sorvete, seja para levar uma ideia adiante, conheça o seu público.