Paraibano de Princesa Isabel, o delegado Aldo Lopes de Araújo, da Polícia Civil de Natal, no Rio Grande do Norte, usou uma linguagem pouco usual, porém vigorosa, como ele mesmo admite, em um despacho datado do último dia 5, mandando soltar um morador de rua detido por pular o muro de uma creche para defecar, ou “arriar o barro, esvaziar o intestino grosso, cagar”.
O delegado ainda fez um desabafo contra o que ele classifica de “cagalança geral” dos políticos, gestores e autoridades.
Aldo Lopes disse ao ParlamentoPB que estava de plantão na 2ª Delegacia da Polícia Civil da Zona Norte de Natal, no domingo (5), quando um morador de rua “pobre, negro e com fome” foi levado até ele, acusado de ter pulado o muro da creche e de ter levado uma luminária.
Ele contou que ouviu o rapaz, que negou ter roubado a luminária, e o vigilante, que disse que não viu o morador de rua levar nada. O delegado disse, então, ter ficado indignado, o que pode ser constatado em seu despacho.
“Trata-se de um brasileiro em típico estado de necessidade. Ele não tem casa nem privada onde possa “arriar o barro”. E foi trazido a esta delegacia pelo simples fato de ter cagado no intramuro da repartição pública mal cuidada e mal vigiada, quando a cagada maior é dos administradores, a partir do momento em que não cuidam direito da segurança do prédio, um espaço destinado a prestar serviço público”, disse o delegado em seu despacho.
E continuou: “Trata-se de uma uma cagalança geral: do prefeito ao secretário, passando pelo diretor do órgão, pelo vigilante de faz-de-conta, pelos membros da Guarda Municipal que conduziram um homem inocente até esta Delegacia”.
E por não vislumbrar justa causa que justificasse a lavratura de um procedimento criminal, mandou soltar o morador de rua.
“As pessoas não devem perder a capacidade de se indignar. A gente anda órfão de serviços públicos. O povo é orfão. O poder público é uma ilusão, é uma utopia; Faz de conta que presta serviço e a pessoa carente que está lá na ponta faz de conta que está feliz, está satisfeito e até vota nesses pilantras, que na campanha aparecem nos bairros e prometem mundos e fundos. A gente está feio de ver isto, os homens da mala. Pagamos horrores de imposto e a gente não vê serviço público revertido para a população. Eu fico indignado com essas coisas e fiz o despacho nesse sentido, desabafando”, disse o delegado ao ParlamentoPB.
A biografia do delegado explica sua linguagem literária. Além de delegado, Aldo Lopes de Araújo é jornalista e escritor. Ele foi editor de cultura do Jornal Correio da Paraíba, do caderno do Jornal O Norte e editor do Correio das Artes, do Jornal A União. Também ganhou prêmios de literatura, entre eles o prêmio Câmara Cascudo de Literatura, com seu romance “O Dia dos Cachorros”.
Veja despacho do delegado: