A artesã Silvana Pilipenko, que fugiu da guerra na Ucrânia e retornou à Paraíba no último dia 10, concedeu na tarde desta terça-feira, 19, uma entrevista emocionante do programa Muito Mais da TV Band Manaíra. Ao apresentador, Gerardo Rabello, ela contou detalhes sobre a saída de Mariupol onde morava com o marido, Vasyl, e a sogra, de 87 anos.
“Eu não imaginava que iríamos entrar em guerra. Apesar de todos os rumores, estávamos vivendo normalmente. Eu acreditava que os presidentes da Rússia e da Ucrânia iriam fazer um acordo de paz”, explicou ela. Silvana acrescentou que não pensava em deixar o país porque uma semana antes da guerra começar, a sogra sofreu uma queda e estava acamada. ALém disso, a família não possuia carro. “Mas, por volta das 6h do dia 24, uma prima do meu marido ligou e perguntou se estávamos bem. Ela nos disse que a guerra tinha começado. Depois, eu levantei e escutei as primeiras bombas. Nosso prédio tremeu. Eu já saí aflita, corri para a varanda do apartamento, no quarto andar e vi as pessoas correndo para se abrigar. Eu não acreditava no que estava acontecendo”, revelou.
Depois das primeiras bombas, aviões começaram a lançar explosivos, houve ataques com mísseis e ouviram-se tiros e outros estampidos.
Silvana, o marido e a sogra ficaram 32 dias no apartamento, mesmo depois das janelas terem sido quebradas pelos explosivos. Por causa do conflito, a internet e os serviços de telefonia pararam de funcionar e a paraibana perdeu o contato com familiares no Brasil e com o filho que estava trabalhando na Alemanha. Foi Gabriel, engenheiro naval embarcado em Taiwan, que conseguiu fazer com que os pais e a avó deixassem a Ucrânia em meio à guerra.
“Ele pediu para sair do emprego porque não conseguia conciliar o emprego com as buscas por nós. Ele se refugiu na Alemanha porque não conseguiria voltar para a Ucrânia porque seria recrutado para a guerra. Ele contratou um mercenário para nos resgatar. Na verdade, foram dois. O primeiro não conseguiu e o segundo, sim. Meu filho não sabia se estávamos vivos porque ele viu imagens de satélite mostrando a destruição em Mariupol. Mas, quando o homem contratado por meu filho nos encontrou, ele disse que Gabriel o havia enviado e falou uma palavra que meu esposo usava para conversar com meu filho, algo como ‘coelhinho’. Sabíamos que realmente tinha sido meu filho que o enviara. Ele nos deu 15 minutos para que nós nos arrumássemos. Não deu tempo para muita coisa. Minha sogra pegou os remédios e fomos embora num comboio porque só podiam ser grupos de três carros. Os veículos não podiam seguir sozinhos”, contou Silvana.
Gabriel Pilipenko estava economizando para comprar um apartamento. Mas, diante do desaparecimento dos pais e da avó, ele empregou o dinheiro no resgate.
Durante o período de guerra em que permaneceu na Ucrânia, a família enfrentou o frio de seis graus negativos e teve que racionar comida e os remédios para a sogra. “Os vizinhos se ajudavam mutuamente. Éramos solidários com água, alimentos e madeira para fazer fogo e nos aquecer. Cheguei a fazer uma sopa com uma lata de ervilha e dividir para nós três”, lembrou.
Atualmente, Silvana está reconstruindo a vida em João Pessoa. Ela está morando na casa da mãe e começou uma campanha para levantar fundos para se manter aqui. Foi disponibilizado um endereço do pix de Silvana ([email protected]) para quem puder ajudar. A família está precisando de ajuda para reorganizar as necessidades básicas como medicamentos, roupas e um emprego para o marido, o ucraniano Vasyl Pilipenko.
No vídeo abaixo, você pode conferir a entrevista de Silvana Pilipenko a partir dos 10 minutos e 38 segundos.
O programa Muito Mais é apresentado por Gerardo Rabello de segunda a sexta-feira do meio-dia às 13h30 no canal 10 da TV aberta.