Os brasileiros mais pobres são a maior resistência à candidatura Bolsonaro

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No dia seguinte ao primeiro turno da eleição de 2014, quando Dilma Rousseff e Aécio Neves se classificaram à finalíssima, participei ao lado do jornalista Josias de Souza de uma entrevista com Fernando Henrique Cardoso. Pedimos ao ex-presidente uma análise, com timbre mais de sociólogo do que de dirigente político, sobre a votação massiva da petista entre o eleitorado de menor renda.

FHC, pró-Aécio, respondeu: “O PT está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados”.

Fernando Henrique enfatizou que a opinião não expressava menosprezo.

Quatro anos mais tarde, os brasileiros mais pobres, ou “menos informados”, impediriam Jair Bolsonaro de se tornar presidente. Se dependesse dos mais ricos, ou “mais informados”, o deputado de extrema-direita venceria hoje a eleição.

Em três simulações de segundo turno da pesquisa mais recente do Datafolha com a presença de Bolsonaro, ele prevaleceu no segmento de eleitores com renda familiar mensal de dez salários mínimos (R$ 9.540) para cima. Superou Lula por 43% a 32%. Marina Silva, por 42% a 34%. Geraldo Alckmin, por 38% a 31%.

No entanto, malogrou entre os entrevistados com renda familiar de até dois salários mínimos (R$ 1.908): perdeu de Lula, um passeio de 60% a 25%. De Marina, por 46% a 26%. De Alckmin, por 36% a 28%.

Na amostra do instituto, os eleitores com renda familiar até dois salários corresponderam a 47%. A partir de dez salários, a 4%. O IBGE calcula que metade dos brasileiros sobrevive com renda individual mensal inferior a um salário mínimo.

Como a estrutura da renda e da riqueza é piramidal, há muito mais votos de quem ganha menos do que de quem ganha mais. Na pesquisa do finzinho de janeiro, Lula derrotou Bolsonaro na soma geral, 49% a 32%. O extremista ficou dez pontos atrás de Marina, 32% a 42%. E alcançou empate técnico com Alckmin: 35% para o governador, 33% para o deputado.

A tendência se manteve quando considerada a escolaridade. Entre os entrevistados com ensino fundamental, Lula beira o triplo da intenção de votos de Bolsonaro (61% a 23%). Contabilizando apenas os com ensino superior, o petista é sobrepujado por 40% a 34%.

Esse é o retrato de momento, ou de dois meses atrás. Lula é o candidato com mais chances de frustrar a empreitada fascistoide encarnada por Bolsonaro. Nos cinco cenários de primeiro turno que incluem os dois, são eles os contendores que passam ao último round.

Caso a Justiça confirme a proibição de Lula concorrer, Bolsonaro seria o principal ou um dos principais candidatos beneficiados. Tal afirmação não constitui opinião. É fato, evidencia o Datafolha. Nas quatro simulações de primeiro turno sem Lula, Bolsonaro lidera três e empata uma, no limite, com Marina (ele registra 21%; ela, 17%). Com Lula no jogo, o deputado perde o primeiro lugar.

Se não fossem os “menos informados”, o risco à democracia seria ainda maior. É curioso ouvir que os brasileiros pobres impulsionam Bolsonaro. Sucede o contrário: eles concentram a resistência civilizatória à selvageria representada pelo capitão que já sugeriu pau-de-arara para torturar gente em CPI, disse que fecharia o Congresso e pregou o extermínio de 30 mil pessoas, sem poupar o então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Escolaridade não equivale, necessariamente, a sabedoria. Cada um sabe onde o calo incomoda mais. A maioria dos cidadãos mais pobres não identifica hoje em Bolsonaro alguém que mitigaria sofrimentos e promoveria progressos em suas vidas.

A base social da extrema-direita no Brasil situa-se tradicionalmente na classe média (como a que tem renda familiar mensal acima de dez salários mínimos). Do vigor do integralismo nazifascista, na década de 1930, à postulação presidencial de Plínio Salgado, em 1955 (o veterano integralista amealhou 8% dos votos válidos no país; no Paraná, conquistou 24%; na cidade do Rio de Janeiro, 5%; Juscelino Kubitschek ganhou a eleição).

The Intercept_Brasil

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