Apesar do silêncio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem de manhã em Santa Luzia, há muito o que analisar na solenidade que foi realizada para poucos convidados e que rendeu muitas queixas de quem foi deixado de fora.
Tratou-se da inauguração do primeiro complexo híbrido de energia solar e eólica autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O empreendimento é uma realização da Neoenergia, com investimento total de cerca de R$ 3,5 bilhões.
A Neonergia pertence ao grupo espanhol Iberdrola, empresa que atua no Brasil desde 1997, sendo atualmente uma das líderes do setor elétrico do país.
O evento de ontem era privado, particular e não foi realizado pelo Governo. Ao contrário, Lula foi convidado para prestigiá-lo. Primeiro, porque o governo federal concedeu incentivos ao grupo e segundo porque o empresário Ignacio Sánchez Galán demonstrou ter pelo presidente mais que uma relação de negócios, mas de amizade e admiração.
O número reduzido de convites, 150, foi uma ideia da Neoenergia. Com muita reclamação de autoridades que queriam ir ver Lula, aumentaram 30 cadeiras. A queixa continuou sendo imensa, incluindo a imprensa local que teve seu trabalho muito prejudicado pela logística da organização que privilegiou a mídia nacional e sequer ofereceu internet razoável para quem precisava entrar ao vivo da zona rural de Santa Luzia.
Resultado disso é que quase ninguém do PT se aventurou a prestigiar a solenidade. Só o ex-candidato a deputado federal pelo PT de Campina Grande, Marcio Caniello apareceu por lá acompanhado de Sergio Bandeira, que é secretário de Organização do partido na Rainha da Borborema.
Lula entrou mudo e saiu calado. Suspeita-se que estivesse poupando a voz para outro momento. Tem um vídeo feito pelo pessoal da TV Borborema que mostra uma conversa do presidente com a senadora Daniella Ribeiro e ele parece se queixar da garganta. Mas, Saindo de João Pessoa ele foi com sua comitiva a Pernambuco onde se reuniu com a governadora Raquel Lyra e no fim da tarde relançou o Programa de Aquisição de Alimentos. E foi com direito a discurso.
Esta foi a primeira vez de Lula na Paraíba depois das eleições de outubro e certamente o estado esperava mais. Mas, o presidente não veio prestigiar o Estado, desta vez, veio fazer um aceno à empresa, ao investimento que ela está fazendo no Brasil (está em 18 estados e no Distrito Federal) e ajudar a registrar os incentivos que o governo federal dá para as energias renováveis.
Em Pernambuco se tratava de um evento do governo federal. Lá, Lula usou a voz até para defender a governadora que levou uma senhora vaia. E em alto e bom som, disse que hostilizar Raquel Lyra era o mesmo que hostilizar a ele, porque a governadora estava ali porque fora convidada. E ainda deu lição de moral orientando os militantes a terem tolerância para conviver com adversários.
Era um momento desses, de um discurso inspirado de Lula que os paraibanos esperavam. Vão continuar esperando. Repito: a Paraíba não foi o motivo da visita. Ela foi um gesto aos investidores das energias renováveis que por um acaso estavam inaugurando um parque por aqui. A agenda paraibana de Lula continua sem ter ainda nenhum registro.