“Sertão não presta mais
mas ele só ficou ruim, depois que o homem deu fim à mata e aos animais.
O chão foi ficando enxuto e a terra negando fruto e o povo passando fome
E quem destruiu a beleza não deu fé que a Natureza tá se vingando do homem”.
Trecho retirado do filme “Leonardo Bastião, o poeta analfabeto”, de Jefferson Sousa
Em tempos das mais diversas chagas, políticas, ambientais, econômicas, espirituais, o videoclipe “Canto de Proteção” da paraibana Luana Flores, lançado em fevereiro deste ano, expande os pulmões, preenchendo-nos de arte: inspiração, cura, proteção e força. Não é à toa que ela ganhou recentemente o Prêmio Novo Talento SIMsaopaulo 2020.
Música e imagens em movimento fundem-se em uma sincro/dia-cronia. Luana Flores dá um salto elementar em seu percurso artístico, ao lado de tantos multiartistas que colaboraram neste clipe nordestino-paraibano, realizado graças aos recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc (via Edital realizado pela prefeitura de João Pessoa, FUNJOPE e FMC).
Neste sentido, é preciso chamar a atenção dos poderes públicos para a importância de Editais – nacionais, estaduais e municipais -, de fomento à cultura e às artes. Levando ao pé da letra, as expressões culturais estão contribuindo significativamente para que consigamos sobreviver face ao horror instalado. Não seria demasiado dizer que as expressões artísticas se constituem em um importante elemento para a saúde mental e emocional das pessoas, sobretudo nesse período pandêmico, de excepcionalidade.
Para quem não sabe, Luana Flores é da safra de artistas paraibanas/os contemporâneos que – ao lado de Escurinho, Sinta a Liga Crew, Totonho, Chico Correa, Coco das Manas, dentre tantos outros –, estabelece uma virada cultural, promovendo hibridismos e fusões da cultura e música popular com as múltiplas tecnologias contemporâneas. Luana se auto intitula “@nordestefuturista”. Ela também pode ser caracterizada como uma “artivista social”, demonstrando que a arte pode estar em conexão com temas políticos candentes da sociedade. Flores destaca-se por seu trabalho com questões de gênero, sexualidade, resgate das sabedorias ancestrais e território.
Com uma alta carga simbólica e imagética, o clipe recupera fundamentos culturais e religiosos de um Brasil profundo, sincretizado, híbrido e em constante devir. O Nordeste do infinito Sertão e Mar se faz presente, conclamando ao Mar-Sertão, Sertão-Mar, que aquece ao mesmo tempo que transcende a dualidade. Integração em movimento também se faz presente a partir dos cânticos e orações do Terreiro e do Cristianismo, ambas tradições ancoradas em territórios e corpos/as em nosso país. Tudo isso, com o elemento futurista, das novas tecnologias em expansão.
O videoclipe surpreende e me faz lembrar, por um lado, no campo do cinema, a arte-fusão de Glauber Rocha, e, por outro, no campo musical, a arte-fusão do tropicalismo. Gêneros artísticos – por assim dizer – que resgatam e prometem um Brasil-devir.
Assista
Obs: agradeço a Janaína Quetzal pela leitura e contribuições ao artigo.
FICHA TÉCNICA MÚSICA
Produção musical: Luana Flores
Saxofones: Dudu Bongo @dudu_bongo
Trompete: Jose Villegas @ze_malandro_music
Baixo: Diogo Rocha @jambo.jones
Caxixis: Chico Santana
Pós produção/mix/master: Salvador Araguaya @salvador_araguaya
Selo: Gato Pardo @nucleo.gatopardo
FICHA TÉCNICA VIDEOCLIPE:
Direção: Ana Moraes @aanamoraes e Luana Flores
Roteiro: Ludmila da Mata @curvaderyo Ana Moraes @aanamoraes e Luana Flores
Direção de arte: Ludmila da Mata @curvaderyo
Figurino: Ludmila da Mata @curvaderyo e Biojoias Duá @biojoias_dua
Assistente de set: Rafa Schuh @rafaschuh
Figuração: Jo Oliveira @parajeau Mestra Ana Rodrigues @mestraanarodrigues Ludmila da Mata @curvaderyo e Luana Flores
Agradecimentos: Josimar Batista (Ba), Ritinha Tabajara, Fabinho do Ipiranga, Seu Pedro do Ipiranga, Quilombo do Ipiranga.