Preso, entregue à própria sorte, Queiroz vai abrir a boca para tentar salvar a esposa, sua cúmplice que está foragida da polícia, e livrar a filha, ex-funcionária fantasma do então deputado Jair Bolsonaro, da mira da justiça.
O ex-assessor de Flávio não vai assistir à caçada a sua família quieto. Vai preferir salvar sua família e não a do presidente, por mais fiel que tenha sido até quinta-feira, quando foi preso.
Queiroz era protegido pela família Bolsonaro. Prova disso é que estava escondido no escritório do advogado de Flávio, em Atibaia. Mas agora ele está preso em Bangu. A proteção acabou. Agora é salve-se quem puder.
O ex-PM vai chutar o pau da barraca. Vai entregar o esquema de desvio de dinheiro público que ele operava com Flávio, possivelmente com a conivência ou com a participação direta do presidente.
O histórico do deputado Bolsonaro é um forte indício sobre sua possível participação no esquema de Flávio e Queiroz. Rachadinhas, funcionários fantasmas, contratação de amigos e parentes, despesas fictícias para desviar verbas de gabinete sempre fizeram parte da rotina. Algo muito comum no legislativo brasileiro, vale ressaltar. De vereador a senador.
Bolsonaro sabe o que fez nos verões passados. Tentar salvar o filho é também tentar se salvar. Ele já se reuniu várias vezes com Flávio e seu advogado, amigo da família, para acompanhar a estratégia de defesa. Então, cabem algumas perguntas ao capitão. Por que Queiroz estava à paisana no escritório do advogado do seu filho? O presidente não sabia disso?
Por que Bolsonaro se apressou em dizer que Queiroz estava em Atibaia para ficar perto do hospital onde estaria fazendo um tratamento de saúde, sem ninguém ter falado nesse assunto, nem mesmo o próprio Queiroz? O que mais o presidente esconde?
Bolsonaro não tem saída. Se não participou, no mínimo acobertou o esquema para salvar a pele do filho. E esta conduta é incompatível com o cargo de presidente da República. Ao pegarem Queiroz, pegarão Flávio. Ao pegarem Flávio, pegarão Bolsonaro, a cereja do bolo.
Flávio diz que as acusações são ilações e que a prisão de Queiroz é um movimento para atacar Bolsonaro. É não, querido. Queiroz pagou, por exemplo, mensalidade escolar da sua filha em dinheiro vivo. O Ministério Público do Rio tem agido com cautela, sem pressa, sem brechas. O garoto é senador, filho do presidente. Tem as costas quentes. O MP não vai dar ponto sem nó.
E Bolsonaro não vai conseguir desatar o nó, ficará enrolado. E a história vai se repetir. No quartel, depois do episódio das bombas, para não ser expulso, fez um acordo para se aposentar. Na presidência, não vai querer ser expulso após um impeachment. Em suma, quando pegarem Flávio, Bolsonaro vai ter de escolher: renunciar antes ou depois da bomba estourar.