O mundo está se afastando do seu objetivo de controlar o aquecimento global, com um crescente fosso entre as emissões de gases de efeito estufa e a ambição do Acordo de Paris, advertiu a ONU em seu relatório anual publicado nessa terça-feira (27).
Para manter o aumento do termômetro abaixo dos 2°C, os Estados terão de triplicar até 2030 o nível global do seu compromisso, em comparação com as promessas feitas em 2015 na conferência sobre o clima em Paris (COP21), ressalta o Programa Ambiental de Nações Unidas (PNUMA)
E multiplicar por cinco para não exceder +1,5°C, um aumento que já provocará distúrbios, acrescenta este 9º relatório sobre a ação climática, publicado cinco dias antes da abertura da 24ª Conferência Mundial do Clima na Polônia (COP24).
“Esta é a notícia mais alarmante: a diferença (entre o nível atual de emissões e o nível necessário) é maior do que nunca”, disse à AFP Philip Drost, que coordenou o relatório do PNUMA.
Em 2017, as emissões de gases do efeito estufa voltaram a aumentar após três anos de relativa estabilidade. E 2018 deve experimentar a mesma tendência, com um aumento esperado das emissões do setor de energia (3/4 do total), alertou a Agência Internacional de Energia.
O cenário do PNUMA é mais desanimador do que no ano passado também porque as pesquisas mais recentes mostram que não será possível contar com uma implantação ampla e rápida de tecnologias de absorção de CO2.
As emissões em 2017 atingiram um nível recorde de 53,5 gigatoneladas (Gt) de CO2, 0,7 bilhão a mais que em 2016, diz o PNUMA. E “nada diz que atingiram um pico – aquele ponto onde balançam, de uma alta para a queda”.
Para manter um aumento de 2°C, seria necessário emitir um máximo de 40 Gt de CO2 em 2030 e 24 Gt para 1,5°C. Mas se os países mantiverem suas ações atuais, sem fortalecê-las, produzirão outros 59 Gt nesse prazo, aponta o relatório, síntese do conhecimento científico.
Segundo os autores, 49 países atingiram seu “pico” de emissões, mas representam apenas 36% das emissões globais. E, no total, apenas 57 Estados (60% das emissões) estariam no caminho certo para isso até 2030 – se as promessas de 2015 forem cumpridas.
Mas há progressos, como o “boom” das energias renováveis, de eficiência energética, de ações de coletivos locais nos transportes; e o PNUMA destaca o dinamismo do setor privado e o potencial inexplorado da inovação e financiamento verde.
Mas lutar contra a mudança climática hoje “é como correr atrás de um ônibus”, explica Andrew Steer, presidente do think tank WRI.
“Estamos avançando cada vez mais rápido, estamos quebrando recordes, mas o ônibus está acelerando e a distância, aumentando”.
De acordo com o relatório especial divulgado em outubro pelos especialistas em clima da ONU (IPCC), o mundo também deve visar o objetivo de 1,5°C e não apenas 2°C, se quiser evitar grandes impactos, ondas de calor, super-furacões ou calotas de gelo desestabilizadas.
Mas no estágio atual, caminhamos para +4°C em comparação com o nível pré-industrial, no final do século.
O PNUMA insiste na necessidade de um impulso a nível nacional e o papel dos governos, por exemplo, por meio de “uma política fiscal cuidadosamente projetada (…) para subsidiar soluções de baixo carbono e tributar combustíveis fósseis”.
Muitos países do G20, em particular, não devem cumprir seus compromissos assumidos em Paris (UE, EUA, Austrália, Canadá…), de acordo com suas trajetórias atuais. China e Rússia devem chegar lá, mas suas ambições eram relativamente limitadas.
Na COP de Katowice, que começa no domingo, os Estados são convidados a responder ao relatório do IPCC e analisar a extensão de seu compromisso global.
O acordo de Paris prevê uma revisão das contribuições nacionais para 2020.
“Os governos devem realmente retomar suas contribuições e elevar suas ambições”, disse Drost, do PNUMA. “Há muito o que fazer, e devemos agir rapidamente – não em décadas, agora.”
Jornal do Brasil