Embora com convocatória e resultado em tempo recorde, a Mostra Internacional de Cinema de João Pessoa (FestincineJP, de 26 a 30 de setembro passado) trouxe significativos resultados para a classe. A presença de de 25 players, exibidores e produtoras com cineastas locais foi um alento para produtores e realizadores. Se o cinema paraibano chegou a esse patamar até o momento, devemos em grande parte aos editais da Funjope (Fundação de Cultura de João Pessoa) para filmes de longas-metragens a partir de 2014-2015.
O Prêmio Walfredo Rodrigues de Produção Audiovisual 2014/2015, em parceria com o Programa Brasil de Todas as Telas, trouxe um aporte de R$ 2,25 milhões em recursos do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e Ancine (Agência de Cinema do Governo Federal), somados com os R$ 1,125 milhão do Fundo Municipal de Cultura (FMC), o que redundou num conjunto de filmes de longa-metragem, possibilitando uma mostra no 13° Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro de 2018 com seis longas paraibanos (‘Beiço de Estada’, de Eliezer Rolim; ‘Sol e Alegria’, de Tavinho Teixeira; ‘Estrangeiro’, de Edson Lemos; ‘Ambiente Familiar’, de Torquato Joel; ‘Rebento’, de André Morais; e ‘O seu amor de volta (mesmo que ele não queira)’, de Bertrand Lira.
Esses filmes, abrigados na Mostra Sob o Céu Nordestino do Fest Aruanda, impactou o público e a crítica por suas qualidades narrativas e estéticas. O crítico Luiz Zanin Orichio, do Estadão, denominou esse feito de “a primavera do cinema paraibano”. Outros filmes vieram nos anos seguintes. A atual gestão da Funjope, sob a direção executiva do sociólogo Marcus Antônio Alves, impulsionou as políticas públicas para o setor. Durante o FestincineJP, a Funjope mostrou para o que veio. Depois de articulações aqui e fora do estado, finalmente foi criada a Filme Comission e anunciada a criação da Agência de Cinema e Audiovisual de João Pessoa, um grande salto para o setor. Festejemos também, a presença de um cineasta (Paulo Roberto) na Divisão de Cinema da Funjope com liberdade de atuação, o que demonstra um real interesse da diretoria executiva em absorver boas ideias.
Como cineasta, atesto os resultados práticos da rodada de negociações com produtoras e players presentes na Usina Cultural, distribuídas em mesas sob uma larga tenda na sua área externa. Foram 94 projetos selecionados (dos 127 inscritos) para reuniões com agentes do mercado de cinema e audiovisual brasileiro, entre eles representantes da Globo Filmes. O canal Brasil, por exemplo, se reuniu com diversos cineastas para possibilidades concretas de aquisição de filmes paraibanos já finalizados. Entre as 25 players e produtoras presentes, destacaram-se, além da Globo Filmes e Globo News, a Paramount Pictures, Warner Bros Discovery, a Sony Pictures, The Walt Disney Company Brasil, a O2 play, a Vitrine Filmes, a DocSP, entre outras.
Aproveito aqui esse breve balanço para identificar o que considero um problema do evento: a pouca representatividade, em termos de quantidade, dos filmes de longa-metragem paraibanos num momento de expressiva pujança da nossa produção mesmo num lamentável e perigoso contexto de políticas públicas para o setor por parte do governo federal. Em conversas com realizadores, bem antes da semana do evento, a queixa era de que seria necessária uma mostra específica para o cinema local, a qual endosso. Para a seleção, o cinema paraibano concorreu com filmes nacionais e estrangeiros, uma disputa difícil. A Funjope acenou com a continuidade do FestincineJP, e esperamos que a classe seja convidada a se envolver com ideias que possam tornar ainda melhor o evento.