Morreu nesta segunda-feira (17) o músico João Donato, aos 88 anos, depois de enfrentar uma série de problemas de saúde. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do artista, que será velado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro e cremado no Memorial do Carmo, no Caju, região central da cidade.
Donato estava internado com pneumonia na Casa de Saúde São José e chegou a ser intubado na quinta-feira (6).
Donato se firmou na música brasileira por sua versatilidade, atuando como compositor, pianista, acordeonista, arranjador e cantor. Com um modo inconfundível de tocar piano, fundiu a bossa nova a ritmos caribenhos, promovendo um diálogo entre a música brasileira e tradições estéticas do continente americano.
Em suas composições, Donato primava pela uma forma simples de compor, que não escondia a complexidade de sua música. Por isso, a forma como estruturava a harmonia no piano era reverenciada –senão invejada– por seus pares.
A composição “A Rã” se tornou o maior sucesso de sua carreira. Ela abre o disco “A Bad Donato”, de 1970, ainda sob o título “The Frog”. O uso da língua inglesa denotava, naquele momento, a internacionalização da música brasileira, sobretudo pelas reverberações da bossa nova. Três anos mais tarde, a música, já em português, aparece no disco “Quem é Quem” e ganharia letra de Caetano Veloso e interpretação de Gal Costa, no disco “Cantar”, de 1974.
No disco “Quem é Quem”, Donato já apresentava uma linguagem muito particular. Com uma voz pequena, bem ao modo bossanovista, louvava a natureza e a sabedoria de cultivar o aqui e agora, como ouvimos em “Chorou, Chorou” e “Amazonas”. Para Donato, nada poderia ser melhor do que a vida nos trópicos. Nesse disco, ainda ouvimos a interpretação clássica de “Mentiras” na voz de Nana Caymmi.
No ano passado, ele lançou o disco “Serotonina”, primeiro trabalho solo com canções inéditas em 20 anos Donato aprendeu a tocar acordeom na infância. Na década de 1940, ele se mudou para para o Rio de Janeiro, onde começou a despontar profissionalmente até se tornar um dos precursores da bossa nova.
Uma de suas músicas mais conhecidas é “Minha Saudade”, que fez em parceria com João Gilberto. A canção fez parte das primeiras apresentações de bossa nova.
Donato também fez parcerias com Gilberto Gil, com as músicas “A Paz” e “Lugar “Comum”, Caetano Veloso com “Surpresa” e Chico Buarque com a canção “Cadê Você”. Ele se tornou amigo também de nomes como Tom Jobim, Maria Bethânia e Gal Costa.
“Serotonina”, último disco do artista, trouxe dez faixas, com dez temas escolhidos do acervo histórico do músico, estabelecendo novas parcerias com compositores como a cantora Céu e a forrozeira Anastácia, que participam do disco cantando com Donato.
No começo do ano, ele se apresentou em São Paulo com as músicas deste álbum. No palco, o músico tocou piano e cantou acompanhado pelo contrabaixista Fabio Sá, pelo baterista Sérgio Machado, pela cantora Anais Sylla e pelos sopros de Marcelo Monteiro.
Folha Online
Foto: Divulgação/Pedro Palhares