RIO — O ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, informou ter pedido a “vários setores” que tomem “providências cabíveis” contra o filme “Como se tornar o pior aluno da escola” devido ao que ele descreveu como “detalhes asquerosos” presentes na obra, que mobilizou as redes neste domingo (13).
Assim que tomei conhecimento de detalhes asquerosos do filme “Como se tornar o pior aluno da escola”, atualmente em exibição na @NetflixBrasil , determinei imediatamente que os vários setores do @JusticaGovBR adotem as providências cabíveis para o caso!!
— Anderson Torres (@andersongtorres) March 13, 2022
O longa-metragem de 2017, baseado em um livro homônimo publicado em 2009 por Danilo Gentili (que está no elenco) e dirigido por Fabrício Bittar, chegou ao serviço de streaming Netflix em fevereiro e inclui uma cena com Fábio Porchat que gerou polêmica. A sequência criticada tem o personagem de Porchat, o pedófilo Cristiano, assediando sexualmente dois garotos. Cristiano interrompe Pedro (Daniel Pimentel) e Bernardo (Bruno Munhoz), pede que eles parem de discutir e, para não serem prejudicados na escola, o masturbem.
Algumas personalidades já se manifestaram, acusando o filme de pedofilia. Entre elas estão o secretário especial da Cultura, Mario Frias, o deputado estadual André Fernandes (Republicanos-CE), a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e o vereador de Niterói Douglas Gomes (PTC-RJ), que compartilhou o vídeo da cena polêmica.
Frias afirmou que o filme faz “apologia ao abuso sexual infantil”. Em seu perfil no Twitter, o titular da Cultura escreveu que “é uma afronta às famílias e às nossas crianças. Utilizar a pedofilia como forma de ‘humor’ é repugnante! Asqueroso!”
A explícita apologia ao abuso sexual infantil protagonizada pelo Fábio Porchat no filme em cartaz na Netflix é uma afronta às famílias e às nossas crianças.
Utilizar a pedofilia como forma de “humor” é repugnante! Asqueroso! pic.twitter.com/rcHSYPsqKO— MarioFrias 2208 (@mfriasoficial) March 13, 2022
“O repugnante filme ‘Como se tornar o pior aluno da escola’ naturaliza a pedofilia a fim de normalizá-la. Já informei ao Ministério da Família ao qual oficiarei, assim como denunciarei ao MP e solicitarei informações ao CNMP acerca dos procedimentos em curso”, disse Zambelli em post no Twitter.
Segundo o “Guia prático de classificação indicativa”, referência da indústria audiovisual brasileira cuja quarta edição foi publicada pelo Miistério da Justiça em 2021, já durante o governo Bolsonaro, “conteúdos em que um personagem se beneficia da prostituição de outro” ou nos quais há “indução ou atração de alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual” não são recomendados para menores de 14 anos — que é a classificação indicativa de “Como se tornar o pior aluno da escola”.
Em texto divulgado por sua assessoria nesta segunda (14), Fábio Porchat sublinhou que o filme se trata de uma obra de ficção e que seu personagem é “o vilão”. “Quando o vilão faz coisas horríveis no filme, isso não é apologia ou incentivo àquilo que ele pratica, isso é o mundo perverso daquele personagem sendo revelado. Às vezes é duro de assistir, verdade. Quanto mais bárbaro o ato, mais repugnante. Agora, imagina se por conta disso não pudéssemos mais mostrar nas telas cenas fortes como tráfico de drogas e assassinatos? Não teríamos o excepcional Cidade de Deus? Ou tráfico de crianças em Central do Brasil? Ou a hipocrisia humana em O Auto da Compadecida. Mas ainda bem que é ficção, né? Tudo mentirinha”, escreveu Porchat.
Danilo Gentili também se manifestou sobre o caso em seu perfil no Twitter, dizendo que “o maior orgulho” que ele tem em sua carreira é ter conseguido “desagradar com a mesma intensidade tanto petista quanto bolsonarista”. Nas eleições de 2018, Gentili apoiou o então candidato do PSL à presidência, Jair Bolsonaro. Posteriormente, porém, já manifestou arrependimento por seu voto.
“Os chiliques, o falso moralismo e o patrulhamento: veio forte contra mim dos dois lados. Nenhum comediante desagradou tanto quanto eu. Sigo rindo :)”, acrescentou Gentili.
O maior orgulho que tenho na minha carreira é que consegui desagradar com a mesma intensidade tanto petista quanto bolsonarista.
Os chiliques, o falso moralismo e o patrulhamento: veio forte contra mim dos dois lados.
Nenhum comediante desagradou tanto quanto eu.
Sigo rindo 🙂 pic.twitter.com/zh4sz2aZcr
— Danilo Gentili (@DaniloGentili) March 13, 2022
O Globo Online