Era o ano de 2012. Eu escrevia uma coluna semanal no jornal A União, onde estavam ícones do jornalismo paraibano como Gonzaga Rodrigues e Martinho Moreira Franco, a quem presto hoje nova homenagem ao republicar um texto daquele tempo em que eu mantive o primeiro contato pessoal com o mestre, uma referência do jornalismo. Mais uma vez meu respeito a Martinho, que deixou seu nome gravado na história de nossa imprensa. À família dele, meus sinceros sentimentos. Ele fará muita falta!
Ao mestre Martinho
Dia desses recebi uma mensagem no Facebook da colega Maria Luiza Franco. Ela queria um telefone de contato. Enviei. Algum tempo depois, um telefonema inesperado. Do outro lado da linha, Martinho Moreira Franco, com quem eu nunca havia falado. Naquela fração de tempo que separava a saudação inicial da conversa propriamente dita, algumas teses passaram pela minha cachola.
Uma delas é que ele estaria prestes a sugerir que encontrasse temas menos umbilicais sobre os quais escrever. Outra: eu deveria ter falado alguma bobagem no programa de rádio ou TV e ele ligara para consertar.
Ambas me causavam apreensão.
– Cláudia, eu não sei nem se você sabe quem está falando, mas…
– Pelo amor de Deus, Martinho. Como não saberia quem é você?
Ele riu, modestamente, e para minha indimensionável surpresa, se declarou leitor das colunas dominicais, elogiou os textos, catapultou meu ego para a estratosfera e se despediu. Não lembro nem o que eu disse. Martinho me deixou de queixo caído e saiu, à francesa, discreto, elegante e generoso.
Semanas se passaram e recebi um texto sobre o lançamento do Prêmio AETC de Jornalismo que este ano homenageia quem? Isso mesmo! Ele!
O estilo e a correção de Martinho Moreira Franco já me eram conhecidos. A ausência de convívio e proximidade, contudo, me privaram de saber algo que me faria admira-lo ainda mais. Ele recusara algumas vezes a homenagem porque não é afeito aos holofotes. É tímido.
Martinho é o cara, todo mundo sabe, mas ele não gosta de ser cultuado, festejado, de pavonear. Pronto: encontrei um ídolo para chamar de meu.
No discurso de agradecimento pela homenagem prestada pela AETC-JP, meu herói disse ter dúvidas se foi um bom jornalista e comparou o certificado prático, digamos assim, de “validação” da profissão com a de motorista:
– Antigamente dizia-se que, para ser um bom motorista, o sujeito teria se sofrer pelo menos uma batida de carro. E que, para ser jornalista, teria que apanhar pelo menos uma surra, de preferência na rua. Que tempos, hein? Pois bem, como motorista até sofri pelo menos uma batida. Como jornalista, porém, só tenho levado surras da gramática.
Mentira. A gramática não lhe aplicaria sequer um relutante beliscão. Com sua sofisticação revestida de simplicidade, Martinho, involuntariamente exercita o apregoado pelos versos dos igualmente grandes Baden Powell e Vinicius de Morais: “O homem que diz ‘sou’, não é. Porque quem é mesmo é ‘não sou'”.
E ainda não querendo e não buscando, não lhe restará escapatória, mestre. Seja mais uma vez generoso e aceite a reverência de seus pupilos e admiradores. Onomatopeicamente, despeço-me: Clap, clap, clap!