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Marighella tem status de herói em filme de Wagner Moura e colhe a empatia do público

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A Ditadura Militar brasileira, além dos danos que fez ao país, contribuiu por ampliar a lista de heróis que figuram nas tristes páginas de nossa história. O filme ‘Marighella’ (2019), finalmente, chegou às salas de cinema depois de exitosa passagem em festivais internacionais e um indesejado vazamento de cópia nas redes sociais.  O que se configurava um golpe contra o filme, talvez não tenha impedido a busca numerosa de espectadores para fruir a obra de Moura na tela grande. ‘Marighela’ é o filme brasileiro mais visto desde a chegada da pandemia. Ponto para o ator cineasta e para o brasileiro que está tendo a chance de conhecer a luta (inglória) da resistência armada no Brasil. 

A Ditadura foi tema de diversos filmes de ficção e documentários nacionais. No domínio da ficção, o pioneiro foi ‘O desafio’ (1965), do carioca Paulo Cesar Saraceni, um ano depois da destituição, à força, de um presidente democraticamente eleito, com a promessa de eleições livres um ano depois. Um grande paradoxo. Glauber Rocha imprimiria, em seguida, a sua visão alegórica sobre os anos de chumbo no país. ‘Terra em Transe’ (1967) tornou-se um clássico, sempre atual, ao abordar o jogo político do poder, a eterna luta de classes e as contradições da sociedade brasileira.  

Eduardo Coutinho realizava a sua ficção ‘Cabra marcado pra morrer’, em 1964, quando foi interrompido pelo Golpe Militar, em plena filmagem, com a dispersão da equipe e atores, camponeses envolvidos na luta pela terra. Ele retomaria o projeto em 1984, desta vez como documentário usando as imagens ficcionais que sobreviveram. Fez um dos filmes mais extraordinário do nosso cinema. Em 1979, no início da chamada Abertura Política, o cineasta Oswaldo Caldeira estreia o seu ‘O bom burguês’, a história de um funcionário do Banco do Brasil que desviava dinheiro para a luta armada.

Já respirando uma relativa liberdade política, mas comandada ainda pelos militares, o Brasil toma conhecimento dos horrores da Ditadura com ‘Pra frente Brasil’ (1982), de Roberto Farias, filme que teve forte repercussão. Dois anos depois, em 1984, em plena mobilização civil por eleições livres e diretas, o cineasta Sílvio Tendler lança ‘Jango’, documentário sobre o presidente civil deposto pelo Golpe. Até chegarmos a ‘Marighella’, foram onze filmes que retratam diretamente, ou como pano de fundo, a famigerada noite que durou 21 anos. Destacamos aqui: ‘Que bom te ver viva’ (Lucia Murat, 1989), ‘Lamarca’ (Sérgio Resende, 1994) – como Marighella, Lamarca foi um dos líderes da luta armada, também assassinado pela repressão; ‘O que é isso, companheiro’ (Bruno Barreto, 1997), filme baseado em relato homônimo de Fernando Gabeira e que trata do sequestro de um embaixador estadunidense por um grupo armado de resistência à Ditadura, em 1969.

‘Marighella’ é a incursão do ator Wagner Moura na direção.  E começou bem. O filme foi selecionado para importantes festivais mundo afora: Berlim, Seattle, Hong Kong, Sydney, Santiago, Havana, Istambul, Atenas, Estocolmo e Cairo. A data postergada de estreia no Brasil, 04 de novembro de 2021, deveu-se à pandemia e coincide emblematicamente com os 52 anos do assassinato de Carlos Marighella pelas forças de repressão da Ditadura. O filme já atraiu às 300 salas de exibição espalhadas pelo país mais de 100 mil espectadores ávidos de conhecer a história real do “inimigo número um” dos generais que comandavam a caça às bruxas.

A ação de ‘Marighella’ abarca o ano de 1969, início do recrudescimento da violência e repressão dos militares contra seus opositores, muitos deles jovens idealistas que sonhavam por um país mais justo, igualitário e, antes de tudo, democrático. A ditadura apostava na censura aos meios de comunicação e a qualquer forma de manifestação política, difundindo versões distorcidas dos fatos e detratando seus opositores. A luta armada arquitetava estratégias de monetizar os grupos armados com assaltos a bancos, sequestros e até a execução de apoiadores emblemáticos do regime. No filme, temos a interceptação de uma rádio para negar a versão oficial mentirosa dos militares. 

Wagner Moura constrói um Marighella (Seu Jorge) ético, humano e idealista e, seguindo o manual de um bom roteiro, tem no servil e violento Lúcio (Bruno Gagliasso) o antagonista ideal. Lúcio é daqueles fascistas messiânicos que acredita tresloucadamente na missão que lhe é incumbida: destruir a ameaça comunista. Qualquer coincidência com o memento que vivemos não é mera coincidência. Em torno de Marighella, agem na heroica jornada os experientes Jorge Salles (Herson Capri) e Branco (Luiz Carlos Vasconcelos) e os neófitos Maria (Ana Paula Bouzas) e Humberto (Humberto Carrão).

Com elenco afinado e excelente interpretações, Moura imprime uma tensão que só progride ao longo da sua narrativa, com poucos momentos de alijamento. Numa ambiência de brutal repressão, não há a mínima possibilidade de um final apaziguador. Um dos raros momentos de abrandamento se dá em um dos encontros de Marighella com o filho. O que temos ao longo da história é medo, desconfiança, atrocidades e repressão, numa luta desigual e inglória que levou ao desmantelamento da resistência. Esse clima aterrador é bem construído na tela. Na MPB que, astutamente, sabia driblar a censura vigente à época, temos o exemplo, entre inúmeros outros, de ‘Cartomante’, de Ivan Lins e Vitor Martins: “Nos dias de hoje é bom que se proteja. Ofereça a face pra quem quer que seja. Nos dias de hoje, esteja tranquilo. Haja o que houver pense nos seus filhos. Não ande nos bares, esqueça os amigos. Não pare nas praças, não corra perigo. Não fale do medo que temos da vida…” 

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