A ideia de “marcas” está muito presente em nossa cultura. Somos um povo que tem suas marcas registradas: Quanto à raça, a miscigenação; quanto a religiosidade, um povo de fé; em relação a ética do comportamento, a esperteza; na praticidade do cotidiano, o jeitinho, na política, a politicagem e nos governos, a corrupção. Todavia, foi na dimensão do consumismo que as “marcas” alcançaram o status de grifes, que, por sua vez, é a “marca” do consumo seletivo. Para os adolescentes a grife da roupa determina a identidade social. Muitos adultos apelam para as grifes nos objetos que carregam nos braços ou no rosto, às vezes, símbolos de ostentação e banalidade. Contudo, é na sua dimensão existencial que as “marcas” devem merecer nossa atenção, especialmente por duas razões básicas: 1) elas não aparecem, e, portanto, podemos viver numa ilusão interior, onde o que “aparece” não é a verdade do nosso ser. 2) as “marcas” existenciais não são produzidas pelo modismo do consumo, nem pelos estereótipos culturais com os quais nos identificamos. Elas são retrato da nossa alma, ainda que ainda não revelado.
Há, pelo menos, três “marcas” que não devemos ter, porque elas não precisam fazer parte da nossa história de vida. São “marcas” indesejáveis!
A primeira delas é a marca da inveja. A inveja está fora de moda. O mundo de hoje valoriza as pessoas que trabalham, que lutam e que também são criativas. “Quem trabalha, Deus ajuda”, diz a teologia popular. Por isso mesmo, toda pessoa que se esforça na vida para alcançar seus objetivos, um dia alcança a vitória. O invejoso, ainda que obtenha algum êxito, será sempre um perdedor.
A segunda marca que não precisamos ter é a marca da revolta. Toda pessoa revoltada tem um câncer na alma. Nelas, as idéias fixas são sempre de vingança, destruição, perseguição e até, de morte. A revolta é a semente que faz brotar no coração o orgulho, a indiferença e a falta de paz. O revoltado vive sempre fugindo de si mesmo, pois sabe que não é feliz.
A terceira “marca” que não precisamos ter é a marca da insensibilidade. Ela é filha bastarda da cultura ocidental que valoriza o individual, em detrimento do coletivo. Em nosso mundo, as coisas valem mais que as pessoas e os interesses substituíram os sentimentos. A insensibilidade faz gerar a religião da hipocrisia, onde os templos e as tradições são mais relevantes que a fé e a manifestação do amor interpessoal. É o culto à deformação, onde Deus não é mais levado a sério.
Como as “marcas” podem ser apagadas, as “etiquetas” podem ser arrancadas e os estereótipos culturais podem ser modificados, da mesma forma, as “marcas” indesejáveis podem e devem ser também apagadas na nossa vida.
Nós apagamos a inveja com a força do trabalho e o exercício da criatividade. A revolta é destruída em seus efeitos danosos, quando o perdão começar a quebrar os nossos “muros interiores” e fertilizar o coração, para que a vida brote outra vez. O melhor remédio para a insensibilidade, é entendermos que viver é, antes de tudo, um ato de amor. Como a vida é muito passageira, o tempo que nos resta deve ser dedicado às pessoas, à família, à solidariedade, à prática do bem e ao relacionamento com Deus.
Nunca nos esqueçamos das palavras ontológicas de nosso grande Mestre, o Senhor Jesus, quando disse: “aquilo que quereis que vos façam, fazei vós também”.