O poeta Juca Pontes, nascido campinense, meio pernambucano por suas vivências na terra da “Feira de Caruaru”, mas sobretudo orgulho de todos os munícipes deste lugar do “paraibano do século XX” (poeta Augusto dos Anjos), é sempre culturalmente surpreendente!
Dos vários livros de sua autoria, eu estava relendo “Lixão do Roger – o começo e o fim”, releitura esta feita pela oportunidade do recente retorno de Cícero Lucena ao comando da Prefeitura de João Pessoa, vez que foi ele (Cícero), em 5 de agosto de 2003, o grande mentor da desativação daquele ambiente até então tão degradante e bem ao lado do Rio Sanhauá, “berço da cidade”. E, como que intervindo nessa releitura, eis que observo o sinal de mensagens no “whatsapp” e constato um convite de um outro poeta, Fuba, para o lançamento do livro “As flores do meu jardim”, de Juca Pontes, porém, já “melodiando” o poema “Breve cordel encantado para Luiz Gonzaga”, que evoca: “Sua voz de ouro/ deixei gravada/ no meu chapéu de couro/ Dissonante em mi/ carrego sua sanfona/ dentro de mim”!
Disse “mensagens”… assim no plural. A segunda delas, portanto, e também convidando para o mesmo evento, era do cantor/compositor Tatá Moura, igualmente “melodiando” um outro poema do novo livro de Juca, poema este de título “É da sua natureza”, que diz: – “A lua teve vergonha/ de ficar nua/ na praia de Tambaba”!
Neste sábado, 29 de maio, “dei um jeito” e – fugindo do sistema virtual do lançamento – pessoalmente estive na tradicional e aconchegante “Livraria do Luiz”, claro que obedecendo a todas as regras sanitárias exigidas por este tempo de pandemia. E eis que, pra minha satisfação, lá ainda encontro Juca Pontes, em cujo livro (As flores do meu jardim), na dedicatória que me fez, escreveu: – “Ao querido amigo Mário Tourinho, no jardim cheio de flores, cores, amizade e poesia”. Retornando pra casa, logo pós-almoço, foco-me no livro que é positivamente chamativo desde a capa, cujo desenho, com os outros desenhos ilustrativos de cada poema, correspondem a traços concebidos e elaborados por Jô Cortez, mais que graduada em artes visuais, um nato talento em relação ao qual prefiro valer-me das também poéticas palavras do texto/apresentação constante do livro, assinado pela renomada escritora Ana Adelaide Peixoto. Diz ela, em certo trecho: – “Jô Cortez, com seus traços de meninice, foi certeira nas ilustrações dos poemas. Ilustrações de algodão doce. Tem ninho, passarinho, balões, linhas que sobem e que descem nas escadas das proporções. Uma casinha aqui. Umas menininhas acolá. … Parece guache, parece pétalas, Parece sonhos. … Quanta delicadeza!”.
Por óbvio não devo, já agora (e nem espaço há), satisfazer a curiosidade dos leitores quanto a cada poema do livro “As flores do meu jardim”. Porém, para concluir este texto, sou instigado a dizer que no penúltimo dos poemas, de título “A voz do coração”, Juca Pontes diz: – “Nunca aprendi a rezar/ Meu modo de amar segura a mão de Deus!”. E ao dizer que “Deus escreve certo por linhas tortas”, Juca transmite-nos:
– “Desde cedo já nascera sonhador: no lugar de desenhar estrelas do mar, terminou escrevendo cartas de amor”!
Como dito por Ana Adelaide Peixoto, “Juca Pontes é daquelas pessoas que têm a infância no olhar”. E neste seu novo livro este aspecto está bem transparente, como agradáveis lições não só para crianças, mas, especialmente, para os adultos.