Não é de hoje que o artista paraibano Chico César, um dos grandes orgulhos da nossa terra, finca sua posição política clara e conscientemente à esquerda, tendo assumido, inclusive, cargos políticos ligados à cultura do nosso estado nos últimos anos. Ele é, de fato, como se auto define, um “artivista”.
Nesse contexto, chamou minha atenção a sua nova música, intitulada “Pedrada”, cujo vídeo caseiro alcançou rapidamente um milhão de visualizações, em poucos dias. Ela vem como uma bomba, carregada de um espírito que traduz e representa muito bem o sentimento exacerbado de grande parcela de nosso povo. A identificação é forte e imediata! Ela integrará o álbum “O Amor É Um Ato Revolucionário”, o qual, por si só, já diz pra que veio, com lançamento anunciado para o próximo dia 13/09/2019.
Não falo como especialista de arte e cultura, que não sou, mas imagino que este venha a ser o trabalho mais politicamente engajado de sua carreira. E, diante de todo esse contexto político polarizado, sensível e tendente à radicalização em que vivemos, arriscaria projetar que essa canção possa vir a se tornar o hino símbolo da resistência e oposição política dos nossos tempos, com já fora, outrora, aquela outra, “Para não dizer que não falei de flores”, também conhecida por “Caminhando e cantando”, do nosso também paraibano Geraldo Vandré. A enxergo dessa forma.
Confesso que, talvez por conta da minha formação jurídica, sendo mais simpatizante da preservação da legalidade e das instituições democráticas, por meios mais formais e por assim dizer conservadores, assustei-me com a letra, que, corajosamente, conclama a todos para incendiar esse país com “pedrada” e “fogo” nos fascistas! Assim mesmo, sem meias palavras.
A música pregou na minha cabeça como um chiclete quando entrelaça no cabelo. Pela melodia, pela poesia, pelo artista, pelo reggae. Canto, canto sem perceber que estou cantando, admirado com o disparo da mensagem, mas sempre recobrando a consciência e fazendo minhas ressalvas, fincando também a minha posição política… O que não diminui a admiração que tenho e sempre tive pelo artista, afinal de contas, 37 primaveras devem servir para alguma coisa.
Compartilho com o leitor, abaixo, essa composição, com destaque para a última estrofe, para que saiba sobre o que estou falando e possa também analisar e refletir a respeito:
Pedrada
(Chico César)
Cães danados do fascismo
babam e arreganham os dentes
Sai do ovo a serpente
Fruto podre do cinismo
Para oprimir as gentes
Nos manter no escravismo
Pra nos empurrar no abismo
E nos triturar com os dentes
[Refrão]
Ê, República de parentes, pode crer
Na nova Babilônia, eu e você
somos só carne humana pra moer
e o amor não é pra nós
Mas nós temos a pedrada pra jogar
A bola incendiária está no ar
(A bola incendiária vai voar)
Fogo nos fascistas
Fogo jah!