Tudo começou numa pequena sala, dublê de auditório, no então Departamento de Artes e Comunicação (DAC) da UFPB, em 2005, uma ideia do professor recém ingresso na instituição Lúcio Vilar. Tenho acompanhado todas as edições ao longo desses 18 anos. O festival saiu do campus e foi para a única sala de cinema no Shopping Sul por duas ou três edições, ainda sem patrocinadores e contando com a ação de estudantes e professores que abraçaram o projeto. Migrou depois para a antiga sala de cinema do Hotel Tambaú, passou pelas salas do Mag Shopping até chegar ao Cinépolis.
Assim, o 18° Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro chega à maioridade como uma importante janela para dar visibilidade à produção brasileira de cinema, nordestina e paraibana. ‘Sob o céu nordestino’ é uma mostra de curtas e longas-metragens criada exatamente para alocar esses filmes já que a produção na região chegou a números jamais imaginados. No que se tange à mostra de curtas, a Paraíba está representada por sete obras: ‘O orgulho não é junino, de Dimas de Carvalho; ‘Pantera de olhos dormentes, de Cristal Hannah e Ingsson Vasconcelos; a animação ‘Para onde vou?’, de Fabi Melo’; ‘Abrição de portas’, de Jaime Guimarães; ‘Flora, a mãe do rei’, de Geostenys Barbosa; ‘Céu’, de Waltyennya Pires; e ‘Flor dos canaviais’, de Lívio Brandão e Lucas Machado.
Na Mostra ‘Sob o céu nordestino’ de longas, o público terá a chance de ter contato com algumas obras que já repercutem em festivais e mostras pelo país, a exemplo da produção ficcional paraibana ‘Cervejas no escuro’, de Tiago A. Neves; ‘Sem coração, de Nara Normande e Tião, uma ficção de Recife-PE; ‘Memórias da chuva’, de Wolney Oliveira, um documentário de 2022 que esteve no Festival de Gramado deste ano; e ‘Saudade fez morada aqui dentro’, de Haroldo Borges (ficção, Salvador-BA, 2023).
Na Mostra Nacional de longas, o filme ‘Citrotoxic’, de Julia Zakia (ficção, São Paulo-SP); ‘Saudosa Maloca’, de Pedro Serrano (ficção, São Paulo-SP); ‘Levante’, de Lillah Halla (ficção de São Paulo-SP), ‘Ana’, de Marcus Faustini (ficção, Rio de Janeiro-RJ); ‘Pereio, eu te odeio’, de Tasso Dourado e Allan Sieber (documentário de São Paulo e Rio de Janeiro, 2023); e ‘Othelo, o grande’, de Lucas H. Rossi, um documentário do Rio de janeiro sobre uma lenda do nosso cinema, o ator Grande Othelo, lançado este ano. Todos os filmes são produções realizadas em 2023, o que traz o frescor da recente lavra do cinema brasileiro. As exibições se dão na maior sala do complexo Cinépolis, a Macro XE-9.
Já enfatizamos aqui, no espaço desta coluna, o quão é importante e necessária se faz a realização de festivais de cinema. Primeiro porque é uma janela onde as produções alternativas, muitas vezes sem distribuidor, podem chegar ao público pela primeira vez, formando plateia para o cinema brasileiro. Segundo, um festival se constitui um espaço de formação de estudantes com a oferta gratuita de diversas oficinas e workshops com profissionais reconhecidos no que fazem.
Além do exposto acima, que já justifica a importância de um festival, há mais atividades que gravitam em torno do cinema, como os seminários, palestras, mesas redondas sobre as obras exibidas com a presença dos realizadores e realizadoras, lançamentos de livros, homenagens, etc. Destaco aqui o painel ‘Cinema & Ditadura: Interfaces da estética e da política na produção brasileira’ com a professora Kristal Bivona da Universidade de San Diego na Califórnia (EUA), o professor Rafael Conde da Universidade Federal de Minas Gerais, diretor do filme ‘Zé’, e Susanna Lira, diretora do longa ‘Nada sobre meu pai”, filme na programação do Fest Aruanda. Um banquete de filmes, palestras e debates essenciais para a formação do público. Bon appétit!