O ritual do exorcismo é repleto de mistério. Mas, em 2017 o Papa Francisco recomendou que os sacerdotes recorram à cerimônia ao enfrentarem no confessionário “profundas inquietudes espirituais”. O Tambaú Debate deste sábado, 1º de fevereiro, entrevistou o Padre Sandro Santos, um dos dois exorcistas paraibanos formados por cursos ministrados por representantes do Vaticano. Ele confirmou que o Papa tem estimulado a formação de novos exorcistas e que os fenômenos de possessão têm se tornado mais comuns por causa da internet.
“O exorcismo é uma realidade para a Igreja e o Papa Francisco pede que haja novos exorcistas para cuidar do povo de Deus. Isso se dá a partir da curiosidade das pessoas na internet de quererem saber se o mal existe ou não. A Igreja diz que o mal existe, então, precisamos tomar cuidado porque a maior mentira que o diabo contou é que ele não existe. As pessoas às vezes vão pedir ajuda ao mal em busca de prosperidade, de amores e até de prender uma pessoa. Os exorcistas chamam isso de malefício e ele é uma brecha. A outra é a própria pessoa buscando em livros ou na internet, onde está disponível muito material [sobre satanismo]. Não procure o conhecimento pela curiosidade porque às vezes as pessoas mexem com energias e negatividades que não sabemos a que ponto podem chegar”, explicou.
Padre Sandro definiu o exorcismo como um ato da misericórdia de Deus para reverter uma escolha errada a partir da autoridade da Igreja através da autoridade de um padre habilitado pelo bispo para exercer esse ministério. Ele mesmo passou por um curso ministrado por um representante do Vaticano e por outro coordenado pelo saudoso Padre Quevedo, falecido em janeiro de 2019. Óscar González-Quevedo Bruzón foi um padre jesuíta de origem espanhola naturalizado brasileiro desde 1960. Ele foi professor universitário de Parapsicologia na UNISAL e do Centro Latino-Americano de Parapsicologia até o ano de 2012.
A formação dos exorcistas exige a formação em psicologia, psiquiatria ou parapsicologia: “A Igreja não despreza as ciências. É preciso ter discernimento espiritual para não ser confundido pela própria astúcia do mal. As ciências e a fé têm que andar juntas. Por isso a igreja é tão discreta com o exorcismo e não precisa usar o jogo de pirotecnia porque Deus está acima de tudo e o demônio muito lá embaixo”.
Descrevendo o ritual, Padre Santos disse haver grandes diferenças entre os rituais reais e os que são mostrados nos filmes de terror: “Nos filmes, se dá uma conotação que o mal tem uma força tão grande que o exorcista parece um fantoche. Os filmes de terror levam medo e pânico ao público. Atendo muitas pessoas que não vão precisar de exorcismo, mas que seu inconsciente está bombardeado com imagens do demônio que parecem que vão destruí-la. A recomendação que eu dou aos jovens é que não assistam filmes de terror. Eles acumulam imagens no inconsciente que lá na frente serão transmutadas em pânico e medo e não será bom. As ficções enaltecem o poder do mal e não citam a força e o poder de Deus”.
Mas, como saber se alguém está sob possessão ou se sofre de algum distúrbio psíquico: “Você conversa com uma menina semi-analfabeta que consegue transitar em quatro línguas fluentemente? Ela vai dizendo aberrações, zombarias com o sagrado… isso não é um caso muito comum. O demônio é contra a vida. Ele quer matar”, disse Padre Sandro que descreveu o rito e explicou que dificilmente ele é concluído de uma única vez. Outro ponto do ritual é que é recomendável ter uma imagem de Maria durante a cerimônia: “Quantas vezes já vi durante os exorcismos, rezar um terço ou ofício de Nossa Senhora e as pessoas começarem a gritar e pedir que não rezássemos. Maria é o terror dos demônios e é nossa mãe de misericórdia”.
O Tambaú Debate vai ar todo sábado às 19h20 e é apresentado pela jornalista Cláudia Carvalho.