A tragédia que vem sendo veiculada intensamente pela imprensa nacional sobre a barragem Algodões no Piauí, revela aos paraibanos uma triste coincidência. É que o engenheiro civil Luiz Hernani de Carvalho, projetista da barragem, cuja ruptura se deu na última quarta-feira, 27, às 16 horas, é o mesmo que em 2004 coordenou um grupo técnico responsável pela elaboração de laudo sobre ruptura da barragem de Camará (Alagoa Nova) durante o Governo Cássio Cunha Lima.
O engenheiro apresentou laudo para o governo anterior no dia 04 de agosto de 2004, em audiência pública, organizada pela Secretaria Estadual de Recursos Hídricos no auditório do CREA – PB. O mesmo laudo serviu como subsídio técnico para a CPI instaurada na Assembléia Legislativa da Paraíba. Na época, Hernani condenou com veemência a construção da barragem feita no Governo Maranhão, ocupando a mídia da Paraíba por dias seguidos, chegando até mesmo a declarar que “Camará foi feita para desabar” (Jornal da Paraíba, 17/11/2004).
No mesmo auditório do CREA – PB, só que, em outra ocasião, em 14 de novembro de 2004, foi apresentado um outro laudo técnico, desta vez, feito por parte dos construtores da barragem cuja avaliação foi coordenada pelos professores da USP – Universidade de São Paulo, prof. Paulo Cruz, prof. Luiz Guilherme de Mello e prof. Georg Sadowski, e opunha-se diametralmente ao laudo de engenheiro Luiz Hernani.
O atual secretário de Estado da Infra-estrutura, Francisco Sarmento, à época da construção da barragem de Câmara, ocupante da pasta da SEMARH – Secretaria de Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e Minerais, fez severas críticas à ética técnica de Luiz Hernani e, após a apresentação do laudo, chegou a afirmar que “sendo o governo da Paraíba (gestão de Cássio) responsabilizado pela ruptura de barragem na ação de improbidade administrativa movida pelo MPF/MPE, como era possível que o mesmo governo contratasse laudo técnico para subsidiar CPI quando a Assembléia detinha maioria governista?”.
No caso de Algodões, além de projetista da barragem, cujos serviços custaram ao Estado do Piauí R$ 273.400,00, conforme contrato nº. 44/2009 publicado no Diário Oficial daquele Estado, o engenheiro Luiz Hernani também foi responsável pela autorização para que os habitantes das cidades localizadas abaixo da barragem, retornassem às suas casas. Inclusive, dias antes da ruptura, em visita à barragem com o governador Wellington Dias, o engenheiro assegurou que a mesma não corria riscos.
“Reafirmo o que havia dito antes e garanto a segurança desta barragem. O desmoronamento do acesso à barragem é natural, devido à força das águas que transbordaram e deve continuar acontecendo, sem comprometer em nada a estrutura do reservatório”, explicou o projetista, referindo-se à estrada que leva à barragem. As afirmativas do engenheiro responsável pela obra levaram o governador do estado do Piauí a liberar o retorno dos habitantes às casas.
A barragem de Algodões rompeu em seu primeiro ano de sangria e, até o presente momento, vitimou 6 pessoas (5 continuam desaparecidas). No total são 2.000 pessoas desabrigadas (transferidas para abrigos públicos), 953 desalojadas (acolhidas em casas de parentes e amigos), 312 residências destruídas e 180 danificadas. Segundo os bombeiros, a infra-estrutura de abastecimento de energia, de transporte e de telecomunicações dos locais atingidos está destruída e os moradores também estão sem água por conta da estrutura para fornecimento que também foi danificada.