São Paulo – O novo ministro da Saúde, o médico paraibano Marcelo Queiroga, foi recebido com protestos estudantis nesta quinta-feira na Faculdade de Medicina da USP, sua primeira agenda pública desde que assumiu o cargo, na última terça-feira.
Queiroga atendeu a um convite da direção da faculdade, que havia encaminhado a ele um manifesto de professores titulares da instituição que pedia o compromisso do governo federal com medidas científicas de combate à pandemia.
BOLSONARO GENOCIDA!
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— UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES ?✊? (@uneoficial) March 25, 2021
O ministro passou primeiro pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP (Incor) acompanhado do ministro da Educação, Milton Ribeiro; do cardiologista Roberto Kalil, do Incor; e do secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn. Ali, afirmou ser necessário coordenar ações conjuntas no combate à pandemia, sem precisar quais.
O movimento foi visto por membros da comunidade médica como uma sinalização de mudança nos rumos da pasta, que até então entrava em conflitos com governos estaduais, em especial com a gestão de João Doria (PSDB).
— Temos uma emergência sanitária de importância internacional (…). É necessária a união de todos com base na ciência, com base no humanismo, para que consigamos superar essas dificuldades — disse o ministro.
Em seguida, Queiroga visitou o HC e se dirigiu a pé à Faculdade de Medicina da USP, onde participou de um evento com professores da instituição, representantes do movimento estudantil e médicos. Na chegada, foi recebido por um protesto de cerca de 60 estudantes de medicina que criticam o governo Bolsonaro e sua política de combate à pandemia.
O ministro ouviu gritos de “vacina sim, cloroquina não”, “vacina, pão, saúde e educação” e “Bolsonaro genocida”.
No evento, Queiroga se comprometeu a criar um grupo de trabalho que será coordenado pelo pneumologista e professor da USP Carlos Carvalho, que deverá elaborar um protocolo de tratamento da Covid-19 a ser adotado pelo ministério. Carvalho é um crítico contumaz de tratamentos alternativos e comprovadamente ineficazes, como o uso de cloroquina e ivermectina no tratamento de pacientes com coronavírus.
A ação foi vista pelo diretor da faculdade, Tarcísio Eloy de Barros Filho, como uma resposta ao manifesto da instituição, que pedia o fim de tratamentos sem eficácia comprovada.
— O ministro se mostrou aberto ao diálogo e parece querer trabalhar em conjunto com a academia. Aparentemente é uma mudança de rumo, vamos poder oferecer (sugestões) mais rapidamente e ter retorno das contribuições. Não havia a mesma agilidade (antes) nem a mesma disposição ao diálogo — diz Barros Filho.
Queiroga também conversou, após o evento, com o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.
O ministro se comprometeu com participantes do evento a garantir a transparência na divulgação dos dados relativos à pandemia, um dia depois de sua pasta ter dificultado o registro de mortes de vítimas da Covid-19. O ministério voltou atrás da decisão no mesmo dia.
Queiroga ainda afirmou, segundo Eloy, que quer uma vacinação mais rápida contra o coronavírus e que a defesa do distanciamento social será uma prioridade de sua gestão à frente do ministério, o que contrasta com o comportamento do presidente Jair Bolsonaro, que raramente usa máscara e reiteradamente estimula aglomerações e critica medidas de distanciamento.
— Espero que consigamos dar uma guinada agora neste momento crítico (no combate à pandemia). A sociedade precisa se convencer que o isolamento social é a única forma de parar a disseminação do vírus. Todas as manifestações do ministro têm sido no sentido de trocar uma linha mais negacionista por uma mais construtiva — disse Giovanni Cerri, presidente do InovaHC (instituto de inovação do hospital).
Na saída da faculdade, o ministro Queiroga precisou ser escoltado por seguranças até o carro devido à manifestação dos alunos.
— Os protestos são naturais em uma democracia — disse Queiroga ao GLOBO enquanto era escoltado em direção à saída da instituição. Ele não deu mais declarações à imprensa.
Bruna Mikahil, aluna do sexto ano de medicina na USP, foi uma das pessoas a participar do protesto contra a visita do ministro. Segundo ela, participaram do ato apenas estudantes que já precisam fazer atividades presenciais no local.
— Fizemos marcações no chão para tentar manter o distanciamento. Viemos demonstrar que estamos na luta contra o negacionismo. O governo continua defendendo medidas contra o isolamento social e a favor de medicamentos ineficazes no tratamento do vírus — diz ela.
O Globo Online