O paraibano hitmaker que responde pela alcunha de DJ Ivis, foi um dos assuntos nacionais mais comentados nas últimas semanas, porém dessa vez não foi pela produção e composição de músicas de sucesso, liderando as plataformas de streaming.
O título desse artigo, retirado da música Maria da Vila Matilde da maravilhosa Elza Soares, poderia ser o nome do último hit de Iverson de Souza Araújo, 29 anos, preso no dia 14, no Ceará, após sua ex-mulher, Pâmella Holanda, 27 anos, ter sido covardemente vítima de sucessivas agressões físicas, registradas por câmeras domésticas e presenciadas por duas pessoas, conforme os vídeos e fotos dos seus ferimentos amplamente difundidos nas redes sociais.
Socos, tapas e empurrões desferidos pelo DJ na ex-mulher, em algumas situações com a filha do casal nos braços da mãe, trouxeram repugnância e revolta, gerando comoção por Justiça, por todos que tiveram o desprazer de assistir os vídeos e ver as fotos que registram a lesão corporal associada à violência doméstica que culminaram na prisão do agressor, com base na Lei Maria da Penha.
A violência contra a mulher em seu próprio lar é algo tão presente e corriqueiro, fruto do machismo estrutural, que a punição do algoz, quando ocorre, pode ser considerada infelizmente como uma raridade, principalmente no Brasil, que registrou 105.821 denúncias de violência contra a mulher em 2020.
Na mitologia grega, a figura da mulher aparece muitas vezes associada ao flagelo de uma visão machista, arcaica e desumana. Pandora foi a primeira mulher, criada por Hefesto e Atena a pedido de Zeus com o fim de agradar aos homens, e a ela foi atribuída a culpa, após abrir uma caixa, de ter libertado várias doenças e sentimentos que iriam atormentar a existência do Homem no mundo. Medusa, por sua vez, era uma bela mulher, estuprada por Poseidon no templo de Atena. Mas em vez de Poseidon ser punido, Medusa foi a culpada por Atena por profanar seu espaço sagrado. A deusa então a transformou na figura com a cabeça cheia de cobras e um olhar que transforma os homens em pedra.
No livro dos livros, conhecido como a Bíblia Sagrada, a mulher também é diminuída em algumas passagens a um ser vil e causadora do sofrimento do homem, tendo como exemplo Eva, a primeira mulher, criada por amor para amar a Deus e a Adão. Eva, tendo desobedecido a ordem de Deus de não comer do fruto proibido, além de ter induzido Adão a também comer, foi amaldiçoada e responsabilizada pelos males da humanidade.
Diferentemente da mitologia grega, passagens bíblicas e da normalidade do patriarcado estrutural no mundo, o Caso DJ Ivis vem quebrando paradigmas após artistas e gravadoras anunciarem o término de parcerias com o músico, e pela recente decisão do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, ministro Humberto Martins, em indeferir um Habeas Corpus que pedia a libertação do acusado.
A profecia presente na música de Elza Soares e título desse artigo, foi realizada após o próprio Ivis publicar vídeo com um pedido de desculpas à ex-mulher: “Assumo meu erro”.
Respeitando o direito da ampla defesa, do contraditório e da presunção de inocência de qualquer acusado, essa coluna deseja que esse caso não seja uma exceção, e sim regra para todos os casos comprovados de violência contra as mulheres.
Denúncias de violações de direitos humanos e de violência contra a mulher, feitas especialmente por meio do Disque 100 e do Ligue 180, agora também poderão ser feitas via WhatsApp. Para receber atendimento ou fazer uma denúncia, o cidadão deve enviar uma mensagem para o número 61 99656-5008. Após resposta automática, ele será atendido pela equipe da central única dos serviços. A denúncia recebida será analisada e encaminhada aos órgãos de proteção, defesa e responsabilização em direitos humanos.
Na Paraíba, através do aplicativo SOS Mulher do Governo do Estado da Paraíba, existe o monitoramento eletrônico de mulheres ameaçadas de morte em João Pessoa e Campina Grande. O serviço oferece celulares com dispositivo de alerta – três botões ligados diretamente à delegacia da Mulher e Polícia Militar – que poderão ser acionados em caso de aproximação do agressor. A mulher, muitas vezes foi silenciada pelo seu agressor e por testemunhas, pode agora, no silêncio de uma mensagem ou de click num botão, denunciar atos de covardia que por vezes ocasiona feminicídio.