O personagem Ricardo Coutinho é um capítulo à parte nessa eleição municipal de João Pessoa, 2020, e merece mais da nossa reflexão. Eventos recentes e surpreendentes foram suficientemente graves ao ponto de fazer essa força incontestável do nosso estado, esse gigante das urnas, amargar uma sexta colocação na sua cidade natal.
Inicialmente, destaco o rompimento com o governador João Azevedo, sua cria, que, desfiliando-se do PSB, levou consigo uma boiada incontável de filiados, enfraquecendo o partido e deixando o Mago sem mandato (porque não quis ser senador) e sem influência política direta.
Nesse contexto de relativa fragilidade, eclode a letal “Operação Calvário – Juízo Final”, que o prendeu subitamente e temporariamente, e pior, revelou negociações telefônicas criminosas e odiosas, sepultando aquela imagem de homem público exemplar, ficha limpa, maculando sua biografia com mancha difícil de ser removida. Foi inimaginável, assustador, mas foi real. Real como uma tornozeleira eletrônica (retirada após recurso) e uma proibição de sair de casa à noite. Para a incredulidade dos apaixonados, a decepção dos admiradores e a glória dos opositores.
Como se não bastasse, a cinco dias das eleições, o Tribunal Superior Eleitoral condena-o por abuso de poder político e econômico, em relação a práticas indevidas e longínquas, ocorridas no ano de 2014, quando concorria à reeleição para o governo do estado. O Tribunal ainda o torna inelegível, semelhante ao que ocorreu outrora com o seu adversário, Cássio Cunha Lima, referente a condutas praticadas em 2006.
O fato é que esse golpe foi irremediável. Como dar crédito (e voto) a um candidato inelegível pela Justiça? O resultado você já sabe: o Mago foi magro nas urnas da capital, como nunca. Sexto lugar.
E os eventos constrangedores continuam: logo após as eleições, o Ministério Público Federal, em decorrência das investigações da venenosa Operação Calvário, denunciou ele e outros comparsas ao Superior Tribunal de Justiça, por corrupção e crime contra a administração pública, por desvio de milhões da saúde. Quer mais? Seu partido não elegeu sequer um único vereador na capital, para defendê-lo na tribuna da Câmara Municipal…
Mas Ricardo Coutinho não morreu. Apenas está morto.
Alguns anos de observação foram suficientes para eu testemunhar, como São Tomé, que a política ressuscita as pessoas… Não cometerei mais a ingenuidade de achar que uma “Operação Calvário” sepulta, e que um “Juízo Final” condena um político por derradeiro… Porque quem mata não é a Justiça. É o povo.
O povo mata e o povo dá vida. De novo. Sem razão nem explicação.
O finado Cícero Lucena é só um exemplo: está aí, de volta, de novo, sem razão nem explicação. Quem diria…