A rigor, a Páscoa é uma tradição judaica, cujas raízes remontam ao deserto do Sinai, e à última noite no Egito, quando Moises livrou o povo das garras de Faraó. Três elementos básicos estavam presentes na celebração israelense : O cordeiro sem mácula, as ervas amargas e os pães asmos (sem fermento). O cordeiro simbolizava o sacrifício e o sangue, que livraria os israelitas da morte dos primogênitos – a última das dez pragas. As ervas amargas, representavam o amargor da escravidão, e os pães asmos lembravam a fuga apressada para o
A palavra Páscoa significa, então, “passagem”. Na sua dimensão histórico-religiosa, Páscoa é a celebração da “passagem” dos hebreus da sua condição de escravos no Egito para a libertação, rumo à terra de Canaã.
Em sua essência, a festa da Páscoa é a celebração da liberdade. Pode significar, também, a travessia de desertos, a fuga de muitos “Egitos”, e a vitória sobre todos os Faraós, representados pelas forças, quer de pessoas, ou sentimentos, que nos oprimem e roubam a nossa vida e esperança.
Poucos fazem uma relação adequada dos símbolos espirituais da Páscoa israelense, com o nosso contexto cristão. Talvez, por falta de uma ponte simbólica, a Páscoa ocidental seja hoje tão vazia de conteúdo espiritual, quanto mais recheada com vinho e ovos de chocolates. Na verdade, nossa cultura alterou os símbolos, ocidentalizou o deserto e secularizou o sagrado – Diz-se: Feliz Páscoa, sem a menor noção do que isso significa.
Toda verdadeira libertação tem um preço muito alto e, geralmente, alguém paga esse preço por nós. Os movimentos históricos pelos direitos das minorias são exemplo dessa verdade. Muitos lutaram e morreram para que hoje fôssemos uma sociedade mais livre e menos discriminatória. Ter consciência histórica é também uma forma de ser livre, na medida em que rejeitamos o passado escravizador e assumimos um compromisso com a verdade, a justiça, a liberdade e a paz.
Hoje, o deserto ainda é maior e os Faraós ainda não morreram. Muitas são as forças que lutam para nos manterem sob várias formas de jugo e opressão. Nossa geração do “ovo de chocolate” continua escravizada pelas drogas, alcoolismo, mentiras, superstições, iniqüidade moral, opressão espiritual, solidão, angústia, depressão, egoísmo, corrupção etc. O Egito, na verdade, está dentro de nós com seus Faraós mumificados. É preciso que comecemos em nós mesmos a experiência libertadora, quebrando os jugos que estamos construindo, e/ou aqueles que permitimos que outros a coloquem sobre nós.
Nesta Páscoa deixe Jesus Cristo mudar a trajetória da sua existência. Celebre a passagem da morte para a vida; da escravidão para a liberdade; das trevas para a luz. Páscoa é Jesus no coração da gente. É a celebração da nossa liberdade. FELIZ PÁSCOA!