Cláudia Carvalho

Cláudia Carvalho é editora e diretora do ParlamentoPB, jornalista e radialista, mestre em Jornalismo Profissional pela UFPB
Cláudia Carvalho

A caixa de Pandora da Fiep

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Um barulho danado veio da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba, a Fiep. Ontem, o Gaeco apresentou duas denúncias muito graves e que foram oferecidas depois da Operação Cifrão, deflagrada pela PF em julho de 2020. Uma delas tem 115 e a outra tem 199 páginas repletas de fotos e prints de conversas de WhatsApp que revelam um esquema de desvio de dinheiro a partir de fraudes em licitações.

A denúncia diz que o presidente da Fiep, Buega Gadelha, orquestrou uma forma de direcionar licitações para que duas construtoras, a LPM CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS LTDA. e a ROMA CONSTRUÇÃO E MANUTENÇÃO LTDA. – ME fossem vencedoras. A partir da contratação das duas, eram realizadas outras fraudes como superfaturamento e não execução de trabalhos que eram falsamente medidos e pagos pelo Sistema S. Só que 15% do valor total ficava como propina cobrada pelo presidente da Fiep que é chamado nas conversas do empresário Alaor Fiúza, um dos denunciados, pelo apelido sugestivo de “mãos loucas”.

Eu foleei as denúncias e encontrei trechos muito curiosos, além do apelido de Buega. Os próprios empresários demonstravam medo de serem pegos na fraude e dizem que se a Polícia Federal passasse a investigar o caso, eles seriam o elo mais fraco, que nada aconteceria com o presidente da Fiep e que os empresários e as construtoras é que iriam dançar. Claro que eles descrevem isso usando um palavrão que não vou ousar repetir aqui.

Em outro ponto, numa conversa entre dois denunciados – a secretária de Buega, Chenia Maia e o gerente de infraestrutura do Sesi, Janildo Sales, ele alerta que Buega deve ser informado que somente em uma obra, em Caaporã, o grupo havia chegado a medições que somavam R$ 800 mil de serviços que não tinham sido realizados.

As duas denúncias apresentadas ontem ainda citam que os construtores tentaram barganhar para que a propina baixasse de 15% para 10%, mas não tiveram sucesso. E é curioso que em uma das conversas os empresários dizem que o mundo está mudando e que o esquema tem que mudar também, que as propinas deveriam ser de 5% ou 7%: “negócio que não machuca ninguém”/

E como eu disse, tem fotos que mostram o antes e o depois de obras que deveriam ter sido completas em determinados prédios e foram feitas faltando itens. Em uma outra, apenas a pintura foi efetivamente comprovada e nenhuma outra melhoria pôde ser vista.

Buega Gadelha, recentemente reeleito para presidir a Fiep por mais quatro anos, foi procurado para comentar o teor das denúncias. Assim como a assessoria da Fiep, a resposta foi o silêncio. Um comportamento no mínimo muito estranho para alguém sobre quem pesam suspeitas e acusações tão graves.

O mito grego da Caixa de Pandora diz que apesar de guardar todos os males e doenças do mundo, o recipiente também escondia o dom da esperança. Assim, resta esperar que haja uma explicação pública e convincente porque Buega até pode ser inocente, mas quem lê os documentos do Gaeco só acredita na maldade alimentada pela convicção de impunidade.

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