Não entendo como bem aplicada esta palavra “terrivelmente” para corresponder a um evangélico que seja realmente praticante do Evangelho. Fica distorcida… destoante… fica parecendo tratar-se de um evangélico “pavoroso” ou “assustador”, a causar terror.
Mas, como nestes tempos tem ocorrido muitas inversões – aliás (desculpem), inovações – inovações que também levam a que palavras como “ridículo” (originalmente entendida como o que provoca zombaria ou escárnio) sejam recebidas como de elogio (a exemplo de frases colocadas por um narrador futebolístico que, alto e em bom tom, enaltecendo o feitor de um bonito gol, tem dito “você é ridículo!…), daí não ser pertinente estranhar que o presidente Jair Bolsonaro enfatize querer, para um ou outro cargo federal, pessoa “terrivelmente” evangélica.
Nesse sentido, portanto, espera-se que a pessoa “terrivelmente” evangélica constitua-se, mesmo, em pessoa comprometida – quer dizer, praticante – do Evangelho. Por óbvio, também há a expectativa de que quem assim se posiciona, como o próprio presidente Jair Bolsonaro, seja, ele mesmo, de verdade, praticante do Evangelho! E assim o sendo, que o seja, também, seu ministro da Educação, reconhecido pastor evangélico, a quem caberia evitar, em função do humanismo semeado por Cristo, uma declaração como aquela de que “alunos com necessidades especiais ´atrapalham´ os outros alunos sem as mesmas condições”.
Com este meu pensar, chega-me a aspiração de que alguém que esteja próximo do presidente Jair Bolsonaro dissesse-lhe, e tentasse convencê-lo, de que não se adequa a um cristão “terrivelmente evangélico” semear que quem o possa “arme-se com fuzil” porque, no dizer dele, “povo armado jamais será escravizado”… e que só há duas alternativas para ser vencido em seu posicionamento: o de que ele seja preso (e ninguém terá a ousadia de prendê-lo) ou a de que se o assassine; diz, porém, que prevalecerá a terceira alternativa, que é a de sua “vitória”.
Entre católicos e evangélicos entendo não haver confronto social, isto porque uns e outros procuram espelhar-se e viver com obediência ao Evangelho de Jesus Cristo. Como católico, no recente domingo compareci à missa da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, celebrada por monsenhor Virgílio Almeida. Na primeira leitura do Evangelho mais me chamaram a atenção estes trechos: – “Guardai os mandamentos do Senhor e os poreis em prática porque neles está vossa sabedoria e inteligência perante os povos, para que digam: ´que nação haverá tão grande que tenha leis e decretos tão justos, como esta lei que vos ponho diante dos olhos?´”.
No cântico do Salmo Responsorial, em resposta à introdução “Senhor, quem morará em vossa casa e no vosso monte santo habitará?”, os paroquianos cantamos: “É aquele que caminha sem pecado/ e pratica a justiça fielmente/ que pensa a verdade em seu íntimo/ e não solta em calúnias sua língua”.
Na segunda leitura foi bem enfatizado: – “Sede praticantes da palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”.
No Evangelho do dia, monsenhor Virgílio mais comentou estes trechos que nele estavam inscritos: – “O que torna o homem impuro não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior, pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, maldades, calúnia, devassidão … falta de juízo”.
Entendo, portanto, que em vez de “terrivelmente” evangélicos, todos, especialmente aqui no Brasil e para vencermos este tempo de tanta desarmonia que descaracteriza a característica de nação, busquemos ser praticantes, praticantes mesmo, da maior lição do Evangelho que é a de que “amemos uns aos outros”, no grau que seja possível, porque, só em agirmos sem intolerância, sem ódio, sem espalhar desarmonia, isto já é uma forma de amor… amor ao próximo, amor que toda nação precisa vivenciar para, como uma unidade, dizer-se “nação”.