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Negociação frustrada com paraibano Carlos Roberto, da CAOA, põe em xeque imagem de Doria

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Negociações de venda de grandes ativos entre empresas costumam ser protegidas por alto grau de confidencialidade. Em geral, a notícia só vem a público quando o acordo já está fechado. Se a discussão envolve a venda de uma fábrica o cuidado com o sigilo é ainda maior. É preciso evitar especulações, resguardar os trabalhadores e, principalmente, impedir que o assunto se transforme em alvo de promoção política de partidos e governantes. Quando isso acontece, o político envolvido corre o risco de o episódio se tornar uma propaganda negativa.

Desde sua rápida gestão como prefeito, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) sempre usou a proximidade com o meio empresarial, conquistada ao longo dos anos de experiência à frente do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), como um trunfo de gestão. No caso do fechamento da fábrica da Ford em São Bernado do Campo (SP), anunciada há quase um ano, porém, a interferência do governador e seu hábito de antecipar negociações não concluídas acabou por transformar um episódio que poderia render dividendos políticos num arranhão à sua imagem.

Doria entrou nessa história em 21 de fevereiro de 2019, dois dias depois de a Ford anunciar que deixaria de produzir caminhões no Brasil, o que levaria ao fechamento da fábrica do ABC. O governador prontificou-se a ajudar a empresa a encontrar um comprador e evitar o maior número possível de demissões. Escalou o secretário da Fazenda, Henrique Meirelles, com bom trânsito entre investidores, para ajudar. “Vamos, de forma célere, objetiva e rápida, buscar o comprador”, disse Doria.

Logo depois que o governador abraçou a causa surgiu um interessado, o grupo Caoa. A partir daí, foram 11 meses de informações desencontradas sobre negociações, tentativas de obtenção de empréstimos e, desde a véspera do Carnaval de 2019, uma sucessão de anúncios de que o caso estava próximo de um final feliz. No dia 3 de abril, Doria disse que o novo dono da fábrica seria anunciado depois da Páscoa e 12 dias depois, em entrevista no programa “Roda Viva”, prometeu novidades para o mês seguinte.

A história ganhou tom ainda mais nebuloso por envolver o enigmático Carlos Alberto de Oliveira Andrade, proprietário da Caoa. O empresário cujas iniciais dão nome ao grupo que ele fundou é um empreendedor de sucesso que raramente aparece em público e não costuma dar satisfações sobre seus negócios. O cliente é o único que lhe importa agradar.

O caso da Ford transformou-se num episódio emblemático das incursões do governador no ambiente empresarial durante seu primeiro ano no comando do maior Estado do país. O momento mais marcante foi a tarde de 3 de setembro. Uma forte chuva atrapalhara o horário do pouso do helicóptero que transportava o governador até o Palácio dos Bandeirantes, onde a imprensa o aguardava para um importante anúncio.

Ao chegar, informou que o grupo Caoa acabara de fechar a intenção de compra da fábrica. Em 45 dias seriam anunciados o valor e futuros investimentos. Mas havia algo esquisito no ar. Os semblantes dos convidados, o presidente da Ford na América do Sul, Lyle Watters, o vice, Rogelio Golfarb, e Oliveira Andrade, da Caoa, estavam sérios, fechados.

Andrade respondeu a três perguntas e gravou um vídeo para a equipe de comunicação do governo elogiando o empenho de Doria. Os executivos da Ford não disseram nada. Alegando atraso para um compromisso, Doria encerrou a entrevista. Antes, porém, posou ao lado de Watters e Andrade para uma foto e, de mãos dadas, o trio ensaiou um sorriso. “É uma satisfação ter contribuído para que uma solução negociada de privado com privado pudesse ser cristalizada”, disse Doria.

Na semana passada, Doria e Ford anunciaram o fracasso das negociações com o grupo Caoa. Desde então, o governador decidiu afastar-se das repercussões negativas do episódio. Questionado pelo Valor, disse que “o Estado não pode interferir numa relação entre empresas privadas”.

“A venda da fábrica é uma decisão da Ford do Brasil perante seus potenciais compradores”, disse, por meio de nota. Mas fez questão de destacar sua boa intenção: “O Governo de São Paulo cumpriu seu papel em relação à venda da fábrica da Ford, apoiando geração de novos empregos e atração de investimentos”.

A Ford já havia tentado vender a fábrica do ABC antes de o governador ter a ideia. Em 2018, a empresa conversou com alguns fabricantes de caminhões. Apesar de o imóvel ser antigo, com mais de cinco décadas, os equipamentos modernos poderiam continuar operando.

Fechar uma fábrica não é uma decisão fácil. A multinacional americana mexeu com um dos símbolos da industrialização no Brasil, um marco da política desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek. Já esperava pelo impacto da notícia e pela resistência das lideranças sindicais, que chegaram a viajar até Dearborn, sede da companhia, nos Estados Unidos, em busca de explicações.

A direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC não tem dúvidas de que o grupo Caoa de fato se interessou pelas instalações. Não fosse assim não teria o grupo se reunido diversas vezes com o sindicato para definir regras para os contratos dos operários.

A Caoa ficaria com 700 dos 2,2 mil empregados, segundo o sindicalista Rafael Marques, um dos principais envolvidos na negociação com a Ford. O próprio Oliveira Andrade, diz Marques, participou da discussão sobre participação nos resultados. Nas negociações foi acertado que o teto salarial seria 30% menor do que o máximo concedido pela Ford.

Os trabalhadores foram os mais prejudicados com o vai-e-vem de notícias. Foram meses de esperança em torno da negociação. Segundo Marques, as informações ficavam mais claras quando Meirelles as detalhava por meio da imprensa. Foi assim que os sindicalistas foram bater à porta do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), onde Andrade teria solicitado financiamento.

A sede do governador de São Paulo por investimentos industriais envolveu outros setores. E igualmente Doria antecipou-se aos fatos. Em viagem à China, em agosto, anunciou que a Huawei investiria US$ 800 milhões entre 2020 e 2022 em nova fábrica no Brasil. Mas, em comunicado, empresa disse que vai aguardar leilão da telefonia 5G antes de investir.

Foi, porém, o setor automotivo que mais marcou o envolvimento do tucano com a iniciativa privada. Em março, ele aproximou-se da General Motors, que ameaçava deixar o Estado, ao lançar o IncentivAuto, programa que dá desconto de até 25% no ICMS para montadoras com novos planos de investimento de ao menos R$ 1 bilhão.

No início de maio, Doria antecipou investimento de R$ 1,4 bilhão da Scania, anunciado três semanas depois. Ele disse que essa seria a segunda a aderir ao IncentivAuto, mas a empresa sueca esclareceu que o investimento não estava atrelado ao incentivo. O governador também viajou, a convite da Volkswagen e da Toyota, até Alemanha e Japão, respectivamente, para conhecer as sedes das multinacionais.

Em Wolfsburg, em 29 de agosto, anunciou que a Volks iria investir R$ 2,4 bilhões nas fábricas paulistas. Na verdade, o governador só confirmou a parte destinada a São Paulo do programa de R$ 7 bilhões, anunciado em 2016.

Marques diz que o sindicato aguarda, desde o fim de 2019, uma audiência com o governador e com o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB). Com a saída da Ford, Morando calcula que este ano o município vai perder R$ 10,2 milhões em ICMS, R$ 3,6 milhões em ISS e cerca de R$ 100 mil em taxas. Por meio de nota, Morando disse que a prefeitura não foi comunicada sobre o fracasso das negociações com a Caoa e tampouco foi procurada por outros investidores.

Segundo Marques, Morando prometeu ao sindicato não abrir brecha na lei de zoneamento para impedir que a área da Ford seja vendida a alguma construtora de imóveis residenciais.

Essa história não acabou. Segundo a Ford, ainda há interessados nas instalações de São Bernardo. Doria tem chances, portanto, de sair-se bem se a fábrica for vendida. Mas os prejuízos que o caso provocou ao seu primeiro ano de gestão podem respingar em suas aspirações na carreira política.

 

 

Valor Econômico

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