Os evangelhos narram um dos momentos mais dramáticos da vida de Jesus Cristo, ocasião em que Sua humanidade estava totalmente exposta e Ele absolutamente vulnerável diante da multidão que assistia a seu martírio. No limite do suportável, Ele gritou: “Tenho sede”! Os soldados romanos lhe atenderam de pronto, mas, ao invés de água, deram-lhe vinagre, o que aumentou sua dor ainda mais.
“Tenho sede”! Esse é o grito de muitas pessoas em nossos dias, algumas delas, talvez, bem perto de nós. Sedentas! Agonizantes! Suplicantes! Precisam hidratar a alma e irrigar o solo do coração. Necessitam de alguém que lhes escutem e lhes deem a mão, porque o que está em jogo, às vezes, não é apenas a satisfação de uma necessidade momentânea, mas a própria sobrevivência.
Infelizmente, assistimos hoje a uma espécie de desertificação da vida. Uma aridez estranha vai se formando no interior das pessoas. As fontes estão secando e elas estão sedentas e fragilizadas pelos efeitos que esse tipo de sofrimento lhes impõe. Trata-se de uma sede de atenção, de reconhecimento, de compreensão, de afeto, de esperança. O pior é que algumas delas estão bebendo vinagre ao invés de água, o que potencializa a dor.
Muitos lares tornaram-se desertos. Alguns agonizam carentes de amor, de paz, de perdão, carinho e companhia. Quando a família abandona os seus, a dor é muito mais intensa e a alma, sedenta, clama por água para amenizar o sofrimento que lhes parece insuportável. “Tenho sede”! É o grito de muitos dentro de suas próprias casas. Isso acontece quando, para o casal, a cama vira deserto; na mesa, pais e filhos se agridem; e, nos corredores da casa, irmãos não se reconhecem mais.
Os modernos desertos urbanos alargaram suas fronteiras e alcançaram muitos espaços da existência. Aparentemente temos muito, mas, na verdade, nos falta o essencial. Muitos contatos, poucos amigos; muitos condomínios, poucos vizinhos; muitos bens, poucos tesouros; muitos templos, pouco de Deus. Estamos sedentos de sentimentos recíprocos, de valores que nos humanizem e hidratem a nossa alma. Quando nos pedem água, o que oferecemos? Vinagre? Estamos sendo fonte de dor ou de esperança?