Neymar levou alguns minutos para começar a chorar. Parecia que não acreditava no que havia acabado de acontecer.
Olhava para os companheiros, para a torcida e para o céu, como se tentasse buscar uma explicação para a derrota do Brasil diante da Croácia. Era o fim do sonho brasileiro de conquistar o hexa.
Nesta sexta-feira (9), em seu jogo mais difícil na Copa do Mundo no Qatar, o Brasil empatou com a Croácia por 1 a 1, na prorrogação, e acabou superado nos pênaltis por 4 a 2.
O jovem Rodrygo, 21, e o experiente Marquinhos, 28, desperdiçaram suas cobranças. Neymar nem chegou a ter a vez dele.
A Croácia acertou todas as suas cobranças. Agora, a seleção de Modric espera o vencedor do duelo entre Holanda e Argentina, às 16h (de Brasília).
Antes do Mundial, Neymar chegou a declarar que essa poderia ser a última Copa do Mundo dele. Não voltou a falar mais sobre isso durante a competição, mas começou a temer pelo pior quando se machucou na estreia, diante da Sérvia, e perdeu os dois últimos jogos da fase de grupos.
Recuperado, foi bem contra a Coreia nas oitavas e podia ter sido o herói contra a Croácia. Ele chegou a colocar o Brasil na frente no primeiro tempo extra, mas Petkovic igualou no segundo tempo extra, provocando os pênaltis.
O camisa 10 chegou ao seu 77º gol pela seleção brasileira. De acordo com a contagem da Fifa, ele igualou a marca de Pelé com camisa amarela, como os dois maiores artilheiros do país.
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol), no entanto, considera que o Rei do Futebol acumulou bem mais, com 95.
A diferença ocorre porque a entidade máxima do futebol contabiliza apenas jogos entre seleções, enquanto que a contagem brasileira leva em consideração jogos do Brasil contra clubes e combinados, algo que era comum e importante quando Pelé jogava.
Desta vez, mesmo com um gol de seu camisa 10, o Brasil acumulou mais uma derrota nas quartas. A sexta de sua história. Três dessas derrotas foram nas últimas quatro edições anteriores a do Qatar, todas contra times europeus.
Em 2006, perdeu para a França. Em 2010, caiu diante da Holanda. Na Rússia, em 2018, o carrasco foi a Bélgica. Na última vez que avançou à semifinal nas últimas quatro edições do Mundial, viveu seu maior pesadelo, com o 7 a 1 diante da Alemanha, em 2014.
Curiosamente, o país não vence um adversário europeu na fase eliminatória justamente desde o triunfo sobre os alemães na final de 2002.
Diante da Croácia, pela primeira vez neste Mundial, Tite conseguiu repetir uma escalação, algo que sucessivas lesões no elenco o impediram de fazer antes. Com Neymar no meio, Danilo e Éder Militão nas laterais, ele colocou em campo a mesma formação que derrotou a Coreia do Sul, por 4 a 1.
Diante dos croatas, porém, a história foi bem diferente. Em vez de dominar o adversário como fez com os coreanos, acabou envolvido pelo ritmo do adversário. Teve no primeiro tempo seus 45 minutos mais difíceis.
Com exceção a chutes fracos, o goleiro Dominik Livaković pouco trabalhou. É verdade que Alisson também não foi muito exigido, mas as chegadas da Croácia levaram mais perigo à área dele.
Em um raro momento, o camisa 1 brasileiro chegou a cometer um erro bobo em uma saída de bola, colocando Casemiro na fogueira. O volante perdeu a bola, mas a zaga conseguiu se recuperar e afastar um cruzamento de Luka Modric
Enquanto Neymar esteve apagado na etapa inicial, o camisa 10 da Croácia ditou o ritmo de tal forma que ficasse mais confortável para seu time, só acelerando o jogo em momentos cruciais.
Era a tática perfeita para quem chegou às quartas com mais minutos jogados, sobretudo por ter jogado a prorrogação antes de vencer o Japão na disputa por pênaltis nas oitavas.
Em média, os jogadores da Croácia jogaram 66 minutos a mais do que os brasileiros até esta fase, segundo levantamento da Folha. A estatística considera os 16 atletas mais atuantes das duas equipes (11 titulares e 5 reservas).
São 221 no cronômetro dos brasileiros, a menor média entre as oito equipes classificadas para esta fase. No outro extremo desse ranking, os croatas registram 287.
Historicamente, não costuma ser um problema para eles. Em 2018, chegaram à final disputando prorrogações em todos os mata-matas. Só na final jogou 90 minutos, quando perdeu para a França, por 4 a 2.
Por isso, um ritmo mais lento interessava à equipe de Zlatko Dalić. O placar zerado antes do intervalo acabou sendo melhor para os brasileiros.
Com a mesma formação do primeiro tempo, o Brasil voltou do intervalo com mais ímpeto. Chegou a reclamar de um pênalti, aos 3 minutos, mas o VAR (árbitro de vídeo) não considerou infração o toque de mão de um defensor croata.
Aos 11 minutos, insatisfeito à beira do gramado, Tite trocou Raphinha por Antony. Sem ver grandes mudanças de postura, esperou até os 20 para trocar Vinícius Júnior por Rodrygo.
Somente aos 22 veio a primeira grande chance, quando Lucas Paquetá brilhou pela bola, invadiu a área e, cara a cara com o goleiro, chutou em cima do camisa 1. Aos 32, foi a vez de Neymar também esbarrar nele, após finalizar rasteiro.
Parecia que o Brasil estava com mais medo de perder uma bola que pudesse gerar um contra-ataque, do que manter uma pressão para achar seu gol. O marasmo se arrastou até o fim do tempo regulamentar.
A seleção brasileira não disputava uma prorrogação em Copas do Mundo desde 2014, quando empatou com o Chile por 1 a 1 no tempo normal das oitavas, ficou em um zero a zero no tempo extra e só avançou nos pênaltis, com vitória por 3 a 2.
Desta vez, Neymar tentou evitar um drama maior, ao abrir o placar aos 15 minutos do primeiro tempo extra. Após tabelar com Rodrygo e Lucas Paquetá, ele driblou o goleiro e fez 1 a 0.
No segundo tempo extra, porém, a vitória já parecia certa, mas aos 11 minutos, Petkovic deixou tudo igual e arrastou a decisão para os pênaltis.
Folha Online