Ontem, mais uma vez, o padre Egídio Carvalho Neto esteve na sede do Gaeco em João Pessoa. Desta vez, ao contrário da anterior, que havia sido no dia 6 de outubro, ele foi convocado para prestar depoimento. Mas, semelhante ao que aconteceu naquela outra ocasião, chegou e saiu sem ser visto, não falou com a imprensa e nem com o ministério público. É isso mesmo. O investigado entrou mudo e saiu calado.
Conversei no fim da manhã com o advogado Sheyner Asfora, que representa o ex-diretor do Hospital Padre Zé e ele me disse que orientou Egídio a usar o silêncio. Os motivos seriam o fato de ainda não ter tido acesso a todos os depoimentos e mídias que o MP coletou. E também o elemento surpresa, revelado somente no início da manhã de ontem, de que o Gaeco havia solicitado a prisão do padre, o que foi rejeitado pelo juiz da 4ª Vara Criminal de João Pessoa, José Guedes Cavalcanti Neto, os pedidos de prisão preventivas feitos pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) contra o padre e ex-diretor do Hospital Padre Zé, Egídio de Carvalho Neto, a ex-tesoureira da instituição Amanda Duarte, e a ex-diretora administrativa Jannyne Dantas.
Sheyner é apenas um dos advogados que representam Padre Egídio. Ele também contratou um escritório de renomados criminalistas de Pernambuco. Entre eles está o advogado José Rawlinson Ferraz, muito conhecido e atuante em crimes de grande repercussão no estado vizinho.
Mas, de tudo que já ouvimos e lemos até agora sobre o Padre Zé, as diversas suspeitas de um desvio milionário em um hospital filantrópico, o que mais chama a atenção é o esforço de Padre Egídio para se manter sem uma palavra até agora. É uma contradição com o discurso da defesa do ex-diretor do hospital, que sempre ressalta que ele está à disposição para dar explicações.
Explicações a quem? ele faz questão de evitar o contato com a imprensa. Nunca emitiu sequer uma nota, escrita ou fez um vídeo para dar sua versão para o caso. Padre Egídio espera o que? Ser ouvido num confessionário? Ou tudo isso é um jogo de cena para fazer de conta que está disponível, que não está evitando o contato com as autoridades, que não fugiu… para evitar o que já era provável, o pedido de prisão?
Entendo a argumentação da defesa e que o investigado precisa saber o que há contra si para poder contra-argumentar. Mas, meu liminar de boa fé me diz também outra coisa. Se alguém me acusa de qualquer coisa, sabendo eu o que ele diz ou não, sei se sou ou não inocente. E sendo inocente total ou parcialmente, eu não ficaria calada.