No próximo dia 12 de maio, o desgoverno Temer completa dois anos. Pois é, até parece que foi ontem que começou, né? Mas não foi, não. O fato é que o tempo passou rápido e foi implacável. Mostrou que o Brasil não trocou seis por meia-dúzia. Mas por uma dúzia de ovos podres.
Vejamos, então. Já que em terra de Alexandre Frota, quem tem um Chico Buarque é rei, hoje podemos mostrar aos céticos aquilo que antevimos dois anos atrás, no auge dos carnavais fora de época em que se transformaram as manifestações pelo impeachment de Dilma e contra a corrupção. Uma espécie de micareta política que tomou conta das ruas de muitas cidades brasileiras em 2016.
Alçado ao cargo após o impeachment de Dilma, o novo presidente velho (não no sentido cronológico, claro) chegou ao Palácio do Planalto com a missão de moralizar o governo e acabar com a crise política e econômica do país. Era a pauta das ruas. Pelo menos esta era a expectativa óbvia do povo. Mas, na prática, nada disso aconteceu. Para alguns, entre os quais me incluo, era óbvio que Temer fracassaria. Estava na cara e no DNA. E ele fracassou.
Ruim com Dilma, pior com Temer. Nunca tive a menor dúvida disso. O impeachment (um golpe, na prática) jamais seria a solução para a crise política, econômica e moral do Brasil. Por um simples razão: aqueles que o patrocinaram nunca estiveram verdadeiramente preocupados com o destino do país. Temer, Aécio, Cunha e uma legião de comparsas que estão na cadeia ou a caminho dela foram desmascarados ao longo do tempo. Um a um. E nem demorou tanto tempo assim.
A cruzada moralista contra o desastroso governo Dilma era somente uma disputa política. O poder pelo poder. E também uma tentativa de salvar a pele de muitos bandidos. “Com o Supremo, com tudo”, como bem disse o articulado Romero Jucá.
Com a grande imprensa conivente e tolerante, ao contrário do que aconteceu com Dilma, Temer se segura no cargo até hoje, mesmo com seus 90% de reprovação popular. Sem uma campanha para derrubar o atual presidente, o povo que foi às ruas pedir o impeachment de Dilma enrolou a bandeira, guardou as panelas no armário e voltou a sua vida normal. Como já era de se esperar.
Aquela célebre frase “Calma, primeiro a gente tira Dilma, depois os outros” não vingou, caiu no esquecimento. E o tempo mostrou que era só uma frase de efeito, uma prova da histórica inércia da classe média brasileira. Agora a tendência é Temer concluir o mandato, que termina no dia 31 de dezembro deste ano, mesmo lambuzado na lama da corrupção.
Dois anos perdidos. Eis o saldo do falso levante moralista, fabricado, arranjado, acordado, fadado ao fracasso pré-anunciado. O desemprego aumentou, direitos retirou, a economia parou, a corrupção continuou, a gasolina disparou, o dólar subiu, o povo mais uma vez se ferrou. Nada, absolutamente nada melhorou. Quem vive a vida real tem plena noção disso. E, finalmente, a certeza de que o tempo é mesmo senhor da razão.