Paulo de Pádua
Um exemplo de profissionalismo no serviço público e de superação de barreiras e dificuldades no dia a dia. Não mede esforços para cumprir com suas obrigações e ainda arranja tempo para prestar apoio e solidariedade a quem mais precisa de afeto em meio a uma sociedade cheia de injustiças e desigualdade social. Trata-se de Márcia Gadelha, mulher trans, que está há quase 40 anos no serviço público, no qual já exerceu vários cargos e funções, enfrentando dissabores, resistência, mas conquistando seu espaço com muita luta e dedicação.
Márcia Gadelha passou no concurso do Estado da Paraíba em 1984. Ficou a disposição da Fundação Centro Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência (Funad) por quase 30 anos e hoje está a disposição do Poder Legislativo Municipal.
Atualmente como assessora do Centro Cultural da Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP), ela desenvolve com presteza um trabalho de reestruturação e modernização do setor ao longo de várias gestões que já passaram pela Casa de Napoleão Laureano.
Na gestão do presidente e vereador Dinho Dowsley, a servidora destaca o apoio e a atenção que vem recebendo da atual Mesa Diretora para exercer suas atividades e tentar empregar sua marca. “O presidente da Casa, Dinho, e Doutora Cida, a diretora geral, têm me dado total apoio para que eu possa fortalecer a imagem e os trabalhos desenvolvidos pelo Centro Cultural. Claro, que muita coisa ainda precisa ser feita. Mas nós estamos avançando, na medida do possível”, comemora.
Além do serviço público, ela faz questão de enaltecer o trabalho social que desenvolve em favor das pessoas carentes e em vulnerabilidade social. “Nós temos uma ação social de ajuda e auxílio às mulheres trans e travestis que vivem esquecidas pelo poder público e pela sociedade”, ressalta.
Márcia assumiu sua identidade de gênero feminina ainda adolescente e desde então vem lutando pela causa trans e pela inclusão social e educação do segmento na sociedade paraibana e no Brasil. Mulher trans graduada em Pedagogia e Relações pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), enfrentou, sem medo, o preconceito e os impasses de ser quem ela verdadeiramente é. “Até hoje enfrento o preconceito, resistências e barreiras em meio a uma sociedade ainda arcaica e muito preconceituosa. Mesmo assim, não vou desistir de conquistar meu espaço com o meu trabalho e profissionalismo, sempre pronta para defender a causa”, afirma.
Sua trajetória na vida pública é marcada pela promoção do conhecimento e na valorização da educação inclusiva. “Fui professora e um dos meus primeiros trabalhos executados foi no Projeto Mutirão Escolar, implantado pelo Governo do Estado. Também fui supervisora escolar na Escola Municipal Analice Caldas, bem como instrutora do Projeto Nordeste e no Programa Nacional de Incentivo à Leitura”, destaca a servidora.
Na Funad, além de participar da criação, Márcia ainda colaborou na elaboração do planejamento pedagógico da Escola Ana Paula Ribeiro Barbosa Lira e foi professora da turma de Atendimento Especializado na Fundação. Ela integrou o Cerimonial da CMJP, foi uma das integrantes da equipe da Coordenadoria LGBTQI+, vinculada à Defensoria Pública, e teve sua vida contada em um documentário, produzido em 2011, pelo cineasta e professor universitário, Bertrand Lira. “Esse foi um dos momentos marcantes na minha vida. Ver meu trabalho, minha luta e minha vida contada no documentário, ‘O Diário de Márcia’, que enfatiza a pauta de luta das mulheres trans. O documentário pode ser assistido em várias plataformas digitais”, conta. Em parceria com a professora Socorro Gouveia, Márcia é autora da cartilha “Minha dificuldade é meu ponto de partida” e tem feito história na defesa da educação inclusiva e representatividade das mulheres trans na Paraíba.
Seu trabalho é marcado também pelo reconhecimento e homenagens. Recebeu Votos de Agradecimento da Unidade de Marketing, Comunicação e Gestão do Conhecimento do Sebrae-PB, em 2018; Votos de Aplausos do então vereador Humberto Pontes, em 2020, pela participação no livro “Mulheres Inspiradoras”; Votos de Agradecimento pela Câmara Municipal de Alagoa Grande/PB, em 2019; e Votos de Agradecimento pela Diretoria da Fundação Napoleão Laureano pela pesquisa de documentação histórica do então presidente da Instituição.