Inclusão, mais do que um termo da moda, precisa ser algo constante em nosso cotidiano. E isso também se estende à forma como nos comunicamos. Mas como podemos nos comunicar de forma inclusiva, para que as pessoas, com as suas peculiaridades e diferenças, se sintam acolhidas e respeitadas?
Para aprender sobre o assunto, busquei na internet e encontrei algumas publicações que estão disponíveis para consulta do público em geral, a exemplo do Manual de Comunicação Inclusiva, produzido pela Meiuca para o Carrefour; e do Guia TODXS NÓS de Linguagem Inclusiva, desenvolvido pela [DIVERSITY BBOX] Consultoria para a HBO.
De cara, posso dizer que aprender a se comunicar de forma inclusiva exige vontade: de ler/estudar sobre o assunto e de abdicar de antigos conceitos, não apenas do ponto de vista linguístico, mas principalmente cultural. Além disso, é essencial adotar uma postura empática. Conforme o Guia TODXS NÓS, existem muitos grupos que não se sentem representados pela dicotomia ele/ela, por exemplo, e reivindicam visibilidade. Assim, “modificar e atualizar a nossa linguagem é um movimento saudável”.
Para Pri Bertucci (autor, em parceria com Andrea Zanella, do “Manifesto ILE Para uma comunicação radicalmente inclusiva”), comunicar-se de forma inclusiva significa ter a consciência de que a sociedade e o ambiente de trabalho são compostos por pessoas com diferentes características e identidades. “É uma garantia de respeito, valorização e acolhimento da diversidade humana”.
Na prática, o que tais guias/manuais sugerem? Muita coisa interessante. Inclusive, há diversas opções na língua portuguesa para escrever de forma inclusiva e falar com todas as pessoas. Confira abaixo algumas orientações de como usar linguagem neutra:
- adotar termos comuns de dois gêneros, bastando para isso excluir o artigo (por exemplo: substitua “Os agentes são competentes” por “agentes são competentes”);
- sujeito oculto ou indeterminado (em vez de: “Nos anos 60, o homem pisou na lua pela primeira vez”, use “Nos anos 60, pisou-se na lua pela primeira vez”);
- uso da palavra pessoa (a linguagem oral e escrita deve colocar a tônica na pessoa. Ex.: em vez de dizer “as lésbicas, os gays, os bissexuais, os transgêneros, os intersexo”, diga “pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgênero e intersexuais” ou “pessoas LGBTQIA+”);
- uso do pronome ILE (para evitar os pronomes “ela” e “ele” e suas contrações, as pessoas não-binárias podem utilizar “ILE”);
- Substituição do termo homem (por muito tempo, a palavra “homem” foi usada para definir a raça humana. Mas termos como “humanidade”, “pessoa” e “seres humanos” são mais inclusivos);
- uso do “e” como forma de neutralizar o gênero (a proposta é passar a usar o som da letra E no lugar do O ou A. Por exemplo, em vez de “todos, todes”; em vez de “amigos/amigas”, diga “amigues”);
- Importante: “@” e “x” são recursos muito utilizados, mas podem não englobar todas as pessoas, pois dificultam a experiência de leitura para alguns grupos, como pessoas cegas ou com baixa visão, com dislexia, analfabetas funcionais ou elementares, ou aquelas que simplesmente desconhecem esse código/iniciativa.
Adotar linguagem inclusiva é um processo cultural e político. Denota respeito pelas pessoas e suas diversidades e promove reflexões: sobre quem somos, o mundo em que vivemos e a sociedade que queremos. Assim, que tal começar a exercitar a comunicação inclusiva a partir de hoje?