Hoje eu vou falar de um fenômeno bem atual, fruto da polarização exagerada das eleições presidenciais de outubro. Dizem que no Brasil, CPI costuma terminar em pizza, mas um terceiro turno também tem essa iguaria italiana no cardápio.
Eu não tinha total certeza que a pizza tinha sido criada na Itália. Por isso, dei um Google e descobri que ela surgiu em 1889, pelas mãos do pizzaiolo italiano Raffaele Esposito. Ele resolveu colocar na massa de pizza o recheio de mussarela, tomate e manjericão para agradar o rei Umberto I e a rainha Margherita de Savoia. Por isso também, esse sabor simples tem o nome de Margherita, mas isso não vem ao caso.
O que importa para ilustrar nosso exemplo de divisão política são dois fatos. Um deles da segunda-feira, quando a Autêntica Pizza da Lambreta resolveu ir provocar os militantes bolsonaristas que se estabeleceram desde 1º de novembro em frente ao Grupamento de Engenharia, na avenida Epitácio Pessoa, a principal da nossa capital. Os empresários foram lá distribuir caixas nas quais não havia comida, mas sim desenhos e a inscrição de “pizza impressa”, uma ironia à exigência feita pelos eleitores do presidente Jair Bolsonaro pelo voto impresso.
A gozação da Lambreta teve revanche. Os bolsonaristas denunciaram a conta da pizzaria no Instagram e o perfil foi retirado do ar.
Acontece que outro estabelecimento resolveu se solidarizar com os manifestantes revoltados com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. A Pizzaria Veneza Premium mandou na noite de ontem caixas e mais caixas de pizza de verdade para o QG verde e amarelo da Epitácio Pessoa e virou a queridinha dos bolsonaristas.
Já que estamos falando de comida, tem ainda o exemplo da Soparia da Tia Cris, em Manaíra. A dona, Cristina Melo, resolveu declarar publicamente antes da eleição seu apoio ao agora presidente eleito da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Resultado: perdeu clientes, quase 4 mil seguidores e recebeu várias ameaças e xingamentos nas redes sociais. Uma escritora que também era cliente do lugar, se solidarizou com a situação e iniciou um movimento de apoio à soparia também nas redes sociais. O número de seguidores ainda não foi compensado, mas a casa voltou a ficar cheia, agora com consumidores que pensam como a empresária.
Outro dia, recomendei um novo restaurante a um amigo. No fim de semana, ele me perguntou qual a tendência política do lugar. Eu respondi que não sabia, mas que a comida e o atendimento eram ótimos.
Eu sou de um tempo em que restaurante era só um lugar para comer. Mas, hoje, tem engajamento em toda parte e a escolha de onde se vai fazer uma refeição mais do que nunca se tornou também um ato político e até partidário. Agora, o cliente vai se alimentar física e intelectualmente do que o cardápio convencional e ideológico oferecem. Será uma tendência natural dos novos tempos, um nicho de mercado ou uma paranóia de radicais? Escolha no menu a sua opção.