Vincente Aboubakar em 2022 foi o Kjetil Rekdal de 1998. Ao cabecear para o gol de Ederson aos 47 minutos do segundo tempo, o atacante camaronês fez o que não acontecia desde o pênalti cobrado pelo meia norueguês há 24 anos.
Depois do 2 a 1 obtido pela Noruega em 1998, na França, o Brasil não perdeu mais um jogo na fase de grupos da Copa do Mundo. Isso durou até esta sexta-feira (2), quando Camarões fez 1 a 0 nos comandados de Tite no estádio de Lusail.
Apesar do placar, a seleção terminou em primeiro do Grupo G, com seis pontos. A equipe vai enfrentar a Coreia do Sul na próxima segunda-feira (5), às 16 horas (de Brasília), no Estádio 974, pelas oitavas de final. O país jamais jogou contra o rival asiático em partidas eliminatórias do torneio.
O Brasil entrou em campo podendo fazer algo que não acontecia desde 2006: terminar a primeira fase com 100% de aproveitamento foi em 2006, na Alemanha. Derrotou, em sequência, Croácia, Austrália e Japão. Acabou eliminada nas quartas de final pela França. Depois disso, sempre empatou em algum momento: contra Portugal (2010), México (2014) e Suíça (2018).
Sem contar com Neymar, Danilo e Alex Sandro (todos lesionados) e preocupado com a possibilidade de perder outros nomes, Tite deu chance aos reservas. Quando, aos 18 minutos do segundo tempo. Pedro entrou no lugar de Gabriel Jesus, significou que 25 dos 26 convocados pelo treinador atuaram na fase de grupos do Qatar. A única exceção foi o terceiro goleiro Weverton.
O trio contundido estava presente em Lusail para acompanhar o confronto. Inclusive Neymar, que havia ficado no hotel enquanto o time enfrentava a Suíça na segunda rodada. Ele sofreu lesão no tornozelo direito na estreia contra a Sérvia. A possibilidade dele atuar nas oitavas de final passa a ser a grande dúvida da seleção até segunda-feira.
O Brasil não foi a mesma equipe das partidas anteriores. Na defesa ou no ataque. Antony foi sempre uma ameaça pelo setor direito e Rodrygo carregava a marcação de Camarões pelo meio, a tentar apresentar suas credenciais como substituto de Neymar. Os dois foram apenas parados com faltas. Algumas violentas e por trás.
Mas a seleção não era tão incisiva e, se chego perto do gol camaronês, não criou grandes oportunidades. Aconteceram até mesmo duas defesas de Ederson. A primeira delas, aos 20 minutos, representou a primeira vez que um goleiro brasileiro foi acionado na Copa do Mundo. Foi um cruzamento de Tolo. Depois ainda espalmaria cabeçada de Mbeumo.
Não poderia ser considerado provável o Brasil manter o mesmo futebol das duas partidas anteriores, quando teve os titulares. Camarões, se tem jogadores ofensivos habilidosos, é frágil na defesa. Começou o jogo desta sexta-feira (2) com quatro gols sofridos.
Até mesmo o comportamento da torcida brasileira era diferente das rodadas anteriores do Mundial. Estava menos ativa, com diminuição dos gritos de incentivo. Aos 11 minutos, iniciaram olas, gesto de quem não está assim tão interessado no futebol. Antes do início, foi aberta bandeira desejando rápida recuperação em São Paulo com infecção respiratória.
A seleção africana entrou em campo com jejum de seis partidas sem vencer. O último triunfo havia sido em setembro, contra Guiné Equatorial, pelas eliminatórias para a Copa Africana de Nações.
Depois de Aboubakar quase abrir o placar no início do segundo tempo. Tite resolveu mudar e colocou Marquinhos Bruno Guimarães e Everton Ribeiro na partida. Um dos escolhidos para sair foi Rodrygo. Gabriel Jesus, que quase não apareceu nos primeiros 45 minutos, permaneceu no gramado. Não durou muito. Aos 18, ele deu lugar a Pedro.
O centroavante do Flamengo deu ao time algo que faltava até então: uma presença de área. Alguém que preocupasse os zagueiros africanos. Era algo que não acontecia até então. Ele quase marcou aos 39.
Após a vitória sobre a Suíça, na partida anterior, Thiago Silva havia dito não se preocupar com a entrada de outros jogadores porque todos estariam preparados. Foi fotocópia do discurso que sempre foi de Tite. Daniel Alves, 39, um dos que receberam chance contra Camarões, afirmou que os mais jovens amadurecem rápido. Ou “se tornam homens”, como disse. Era maneira de sinalizar que não havreria problema em campo na despedida da fase de grupos.
No final, houve sim. A cabeçada de Aboubakar nos acréscimos. Na comemoração, tirou a camisa e acabou expulso.
Folha Online